Aquilo que dissera a Mrs. Grose era a mais pura das verdades. Havia em toda aquela história tantos pontos obscuros para os quais não conseguia encontrar explicação, que, quando voltamos a reunir-nos, ambas concluímos ser nosso dever resistir às especulações fantasiosas que não paravam de nos inquietar. Era forçoso manter o sangue-frio, mesmo sendo difícil, tendo em conta a experiência prodigiosa que estávamos a viver. Nessa mesma noite, quando todos os demais habitantes da casa dormiam a sono solto, reunimo-nos no meu quarto para conversar. Acabámos por passar em revista tudo o que me sucedera, já que esta era a única forma de termos a certeza de que eu vira mesmo aquilo que reclamava ter visto. Descobri que a melhor maneira de a levar a acreditar em mim era perguntar-lhe como é que eu podia ter «inventado» as descrições das pessoas que me haviam visitado com uma exactidão tal, que ela mesma de imediato as reconhecera e identificara pelos respectivos nomes. Como seria de esperar — quem poderia culpá-la por isso —, ela queria acima de tudo esquecer o assunto. Quanto a mim, apressei-me a garantir-lhe que o meu único interesse em tudo aquilo se prendia com a vontade de arranjar uma forma de pormos fim a semelhante situação. Com toda a cordialidade, expliquei-lhe que, com o tempo e a força do hábito — já que tudo apontava pata que a situação viesse a repetir-se muitas vezes — acabaria por habituar-me ao perigo, e expliquei-lhe que a minha exposição pessoal tinha passado para segundo plano. De momento, aquilo que me atormentava prendia-se com uma nova suspeita, embora me tivesse acalmado um pouco no decorrer das últimas horas.
Depois da crise de Choro em que culminara a nossa primeira conversa, como seria de esperar, regressei para junto dos meus pupilos, associando a cura para todas as minhas preocupações àquela sensação de encanto que deles se elevava e que já antes reconhecera funcionar como uma espécie de milagre que, até ao momento, nunca me deixara mal. Por outras palavras, mergulhará na companhia de Flora — para vir a perceber que ela era capaz de pôr a sua pequena mão consciente no preciso local onde mais doía.