— Oh, mais ou menos! — Julgo ter esboçado um sorriso pálido. — Não completamente. Também, não teríamos gostado que assim fosse! — acrescentei.
— Não, creio que não. E, claro, temos os outros.
—Sim, temos os outros. De facto, convém não esquecer os outros.
— Mas, de qualquer maneira — retorquiu Miles, as mãos ainda enfiadas nos bolsos, parado à minha frente — eles também não representam grande coisa, pois não?
Fiz o melhor que podia, mas a verdade é que estava cada vez mais abatida.
— Tudo depende daquilo a que chama «grande coisa».
— Sim — retorquiu ele com bastante à-vontade —, depende. — Mas, ao dizer aquilo, virou-se de novo para a janela e para ela se encaminhou com passos vagos, nervosos e pensativos. Ali se deixou ficar, a testa encostada ao vidro, os olhos fixos nos arbustos que se encontravam lá fora e nas demais coisas enfadonhas características do mês de Novembro. Eu usei a desculpa do meu trabalho para ganhar o sofá. Instalando-me nele, como tantas vezes fizera naquelas ocasiões de tormento em que eu sabia as crianças entregues a algo que me estava vedado, obedecia ao velho hábito de me preparar para o pior. Contudo, ao cravar os olhos nas costas de Miles, notei algo que me deixou surpreendida: neste momento, nada me era vedado. Esta percepção cresceu intensamente dentro de mim e ligou-se à directa noção de que a ele é que era. Os caixilhos e as vidraças que constituíam a janela funcionavam para ele como o símbolo de um qualquer fracasso. Era como se já não pudesse mais entrar ou sair. Ele estava admirável, mas não se sentia confortável, percebi com uma vaga esperança.