Ao olhar para o fundo dos degraus a partir do andar de cima, identifiquei uma figura feminina ai sentada. Estava de costas para . mim, o corpo encontrava-se dobrado sobre si mesmo e a cabeça, pesarosa, descansava entre as mãos. Contudo, a visão durou apenas alguns segundos, tendo-se desfeito quase em seguida sem me olhar. Eu sabia exactamente qual devia ser a expressão daquele rosto, e questionei-me se, caso eu estivesse ao fundo da escadaria e não no cimo, teria revelado a coragem suficiente para subir os degraus e encarar aquela aparição com a calma que marcara o meu último encontro com Quint. Bom, o certo é que continuou a haver diversas ocasiões para testar os meus nervos. Onze dias depois de ter-me cruzado com aquele cavalheiro pela última vez — todos os dias eram agora numerados — vi-me tomada de uma ansiedade que, por se encontrar relacionada com algo inesperado, acabou por causar-me um choque assaz profundo. Aquela era precisamente a primeira noite em que, cansada de tanta vigília, tive a veleidade de pensar que não haveria nenhum problema caso voltasse a deitar-me à hora do costume. Adormeci imediatamente, e assim permaneci até cerca da uma hora. Mas quando acordei foi para me sentar num instante, tão desperta como se uma mão me tivesse abanado. Não vi a vela que deixara acesa, o que me levou a concluir, guiada não sei por que pressentimento, que fora Flora quem a apagara. Isto fez-me levantar de um salto e, sempre envolta na escuridão, correr para a cama dela, que se encontrava vazia. Um olhar de relance para a janela levou-me a compreender melhor 0 que se passava, e bastou riscar um fósforo para completar o quadro.
A criança voltara a levantar-se — desta vez apagando a vela — e, ou para observar ou para responder a um qualquer apelo, escondera-se atrás do cortinado e não parava de espreitar pela janela. Percebi que ela agora estava a ver aquilo que dizia não ter Isto da outra vez, já que não deu por eu ter voltado a acender a vela, nem por ter calçado os chinelos e coberto os ombros com um xaile.
