O Conde de Monte Cristo - Cap. 112: A partida Pág. 1033 / 1080

Quando dizia isto, ouviu-se na direcção indicada pelo conde um gemido doloroso e viu-se uma mulher fazer sinal a um passageiro do navio prestes a partir.

A mulher estava velada. Monte-Cristo seguiu-a com a vista com uma emoção que Morrel teria facilmente notado se, ao contrário do conde, não tivesse os olhos fixos no navio.

- Oh, meu Deus, não estou enganado! - exclamou Morrel. - Aquele rapaz que acena com o chapéu... aquele rapaz fardado é Albert de Morcerf!

- Pois é - respondeu Monte-Cristo. - Já o tinha reconhecido.

- Como assim? O senhor estava a olhar para o lado oposto! O conde sorriu como fazia quando não queria responder.

E os seus olhos voltaram à mulher velada, que desapareceu à esquina da rua.

Só então ele se virou e disse a Maximilien:

- Meu caro amigo, não tem nada que fazer nesta terra?

- Tenho de ir chorar sobre a sepultura do meu pai - respondeu surdamente Morrel.

- Então vá e espere-me no cemitério. Irei lá ter consigo.

- Deixa-me?

- Deixo... Também tenho uma piedosa visita a fazer.

Morrel deixou cair a mão na que lhe estendia o conde; depois, com um aceno de cabeça cuja melancolia seria impossível exprimir, deixou o conde e dirigiu-se para o leste da cidade.

Monte-Cristo deixou Maximilien afastar-se e permaneceu no mesmo sítio até ele desaparecer. Depois dirigiu-se para as Alamedas de Meilhan, em busca da casita que nos começos desta história se tornou familiar aos nossos leitores.

A casa erguia-se ainda à sombra da grande alameda de tílias que servia de passeio aos malsemeses ociosos, coberta de grandes maciços de vinha que cruzavam sobre a pedra amarelecida pelo sol ardente do Meio-Dia os seus ramos enegrecidos e retalhados pela idade. Dois degraus de pedra, gastos pelos pés, conduziam à porta de entrada, porta feita de três pranchas que nunca, apesar das suas reparações anuais, tinham conhecido o betume e a pintura e esperavam que a humidade voltasse para as unir.

Aquela casa, encantadora a despeito da sua vetustez, e alegre a despeito da sua aparente miséria, era a mesma em que habitara outrora o pai de Dantès. Simplesmente, o velho habitava a mansarda e o conde pusera toda a casa à disposição de Mercédès.

Foi lá que entrou a mulher do longo véu que Monte-Cristo vira afastar-se do navio que ia partir. A mulher fechava a porta no preciso momento em que ele aparecia à esquina de uma rua, de forma que o conde a viu desaparecer quase no mesmo instante em que a avistou.

Para ele, os degraus gastos eram velhos conhecidos; sabia melhor do que ninguém abrir a velha porta, de que um prego de cabeça larga levantava o loquete interior.

Por isso entrou sem bater nem prevenir, como um amigo, como um hóspede.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069