Ao fundo de um carreiro pavimentado a tijolo abria-se, rico de calor, de sol e de luz, um jardinzinho, o mesmo onde no sítio indicado Mercédès encontrara a importância cujo depósito a delicadeza do conde conservara durante vinte e quatro anos. Do limiar da porta da rua viam-se as primeiras árvores do jardim.
Chegado à entrada, Monte-Cristo ouviu um suspiro que parecia um soluço. Esse suspiro guiou-lhe o olhar e permitiu-lhe descobrir Mercédès, sentada, inclinada e chorando, debaixo de um caramanchão de jasmim-da-virgínia, de folhagem espessa e grandes flores cor de púrpura.
Levantara o véu e, sozinha perante o céu, com o rosto oculto nas mãos, dava livre curso aos suspiros e aos soluços tanto tempo reprimidos pela presença do filho.
Monte-Cristo deu alguns passos em frente; a areia rangeu-lhe debaixo dos pés.
Mercédès levantou a cabeça e soltou um grito de terror ao ver um homem diante de si.
- Minha senhora - disse o conde -, já não está na minha mão dar-lhe a felicidade, mas ofereço-lhe a consolação. Quer dignar-se aceitá-la como vinda de um amigo?
- Sou, de facto, muito infeliz - respondeu Mercédès. - Estou sozinha no mundo... Só tinha o meu filho e ele deixou-me.
- E fez bem, minha senhora - replicou o conde. - É um nobre coração. Compreendeu que todo o homem deve um tributo à pátria: uns os seus talentos, outros a sua indústria, estes as suas vigílias, aqueles o seu sangue. Se ficasse com a senhora, desperdiçaria a seu lado uma existência inútil e habituar-se-ia a vê-la sofrer. Tornar-se-ia rancoroso na sua impotência. Assim, tornar-se-á grande e forte lutando contra a sua adversidade, que transformará em fortuna. Deixe-o reconstruir o futuro de ambos, minha senhora. Ouso garantir-lhe que está em mãos seguras.
- Oh - disse a pobre mulher, abanando tristemente a cabeça -, a fortuna a que se refere, e que do fundo da minha alma peço a Deus que lhe conceda, já não a gozarei! Quebraram-se tantas coisas em mim e à minha volta que me sinto perto da sepultura. Fez bem, Sr. Conde, em aproximar-me do sítio onde fui tão feliz: é onde fomos felizes que devemos morrer.
- Infelizmente, todas as suas palavras, minha senhora, caem amargas e escaldantes no meu coração, tanto mais amargas e escaldantes quanto é certo ter motivos para me odiar. Fui eu que causei todas as suas desventuras. Porque me lamenta em vez de me acusar? Tornar-me-ia muito mais infeliz...
- Odiá-lo, acusá-lo, a si, Edmond?... Odiar, acusar o homem que salvou a vida do meu filho, porque era sua intenção fatal e cruel, não é verdade, matar ao Sr. de Morcerf o filho de que tanto se orgulhava?