O Conde de Monte Cristo - Cap. 112: A partida Pág. 1034 / 1080

Ao fundo de um carreiro pavimentado a tijolo abria-se, rico de calor, de sol e de luz, um jardinzinho, o mesmo onde no sítio indicado Mercédès encontrara a importância cujo depósito a delicadeza do conde conservara durante vinte e quatro anos. Do limiar da porta da rua viam-se as primeiras árvores do jardim.

Chegado à entrada, Monte-Cristo ouviu um suspiro que parecia um soluço. Esse suspiro guiou-lhe o olhar e permitiu-lhe descobrir Mercédès, sentada, inclinada e chorando, debaixo de um caramanchão de jasmim-da-virgínia, de folhagem espessa e grandes flores cor de púrpura.

Levantara o véu e, sozinha perante o céu, com o rosto oculto nas mãos, dava livre curso aos suspiros e aos soluços tanto tempo reprimidos pela presença do filho.

Monte-Cristo deu alguns passos em frente; a areia rangeu-lhe debaixo dos pés.

Mercédès levantou a cabeça e soltou um grito de terror ao ver um homem diante de si.

- Minha senhora - disse o conde -, já não está na minha mão dar-lhe a felicidade, mas ofereço-lhe a consolação. Quer dignar-se aceitá-la como vinda de um amigo?

- Sou, de facto, muito infeliz - respondeu Mercédès. - Estou sozinha no mundo... Só tinha o meu filho e ele deixou-me.

- E fez bem, minha senhora - replicou o conde. - É um nobre coração. Compreendeu que todo o homem deve um tributo à pátria: uns os seus talentos, outros a sua indústria, estes as suas vigílias, aqueles o seu sangue. Se ficasse com a senhora, desperdiçaria a seu lado uma existência inútil e habituar-se-ia a vê-la sofrer. Tornar-se-ia rancoroso na sua impotência. Assim, tornar-se-á grande e forte lutando contra a sua adversidade, que transformará em fortuna. Deixe-o reconstruir o futuro de ambos, minha senhora. Ouso garantir-lhe que está em mãos seguras.

- Oh - disse a pobre mulher, abanando tristemente a cabeça -, a fortuna a que se refere, e que do fundo da minha alma peço a Deus que lhe conceda, já não a gozarei! Quebraram-se tantas coisas em mim e à minha volta que me sinto perto da sepultura. Fez bem, Sr. Conde, em aproximar-me do sítio onde fui tão feliz: é onde fomos felizes que devemos morrer.

- Infelizmente, todas as suas palavras, minha senhora, caem amargas e escaldantes no meu coração, tanto mais amargas e escaldantes quanto é certo ter motivos para me odiar. Fui eu que causei todas as suas desventuras. Porque me lamenta em vez de me acusar? Tornar-me-ia muito mais infeliz...

- Odiá-lo, acusá-lo, a si, Edmond?... Odiar, acusar o homem que salvou a vida do meu filho, porque era sua intenção fatal e cruel, não é verdade, matar ao Sr. de Morcerf o filho de que tanto se orgulhava?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069