O Conde de Monte Cristo - Cap. 114: Peppino Pág. 1050 / 1080

Ora, como os garotos e os basbaques de Roma, mais felizes do que os de Paris, compreendem todas as línguas, e sobretudo a língua francesa, perceberam o viajante pedir um quarto, pedir de jantar e pedir, finalmente, o endereço da casa Thomson & French.

Dai resultou que quando o recém-chegado saiu do hotel com o cicerone da praxe, um homem separou-se do grupo de curiosos e, sem ser notado pelo viajante e sem parecer ser notado pelo guia, caminhou a curta distância do estrangeiro, seguindo-o com tanta perícia que talvez causasse inveja a um agente da polícia parisiense.

O francês tinha tanta pressa de visitar a casa Thomson & French que nem sequer esperara que os cavalos fossem substituídos; a carruagem deveria apanhá-lo no caminho ou esperá-lo à porta dos banqueiros.

Chegaram antes de a carruagem os apanhar.

O francês entrou e deixou na antecâmara o guia, que imediatamente meteu conversa com dois ou três desses industriais sem indústria, ou antes de mil indústrias, que se encontram em Roma à porta dos banqueiros, das igrejas, das ruínas, dos museus e dos teatros.

Ao mesmo tempo que o francês entrou também o homem que se separara do grupo de curiosos. O francês bateu no guiché dos escritórios e entrou na primeira sala; a sua sombra fez outro tanto.

- Os Srs. Thomson & French? - perguntou o estrangeiro.

Uma espécie de lacaio levantou-se a um sinal de um empregado de confiança, guarda solene do primeiro escritório.

- Quem devo anunciar? - perguntou o lacaio, preparando-se para caminhar à frente do estrangeiro.

- O Sr. Barão Danglars - respondeu o viajante.

- Acompanhe-me - disse o lacaio.

Abriu-se uma porta e o lacaio e o barão desapareceram por ela. O homem que entrara atrás de Danglars sentou-se num banco de espera.

O empregado continuou a escrever durante cerca de cinco minutos; durante esses cinco minutos, o homem sentado guardou o mais profundo silêncio e a mais completa imobilidade.

Depois a pena do empregado deixou de ranger no papel; o homem levantou a cabeça, olhou atentamente à sua volta e disse, após se assegurar de que estavam sós:

- Ah, ah!... Por cá, Peppino?

- É verdade - respondeu laconicamente este último.

- Farejaste alguma coisa que valha a pena nesse gordo?

- Não tive grande mérito nisso: fomos avisados.

- Sabes portanto o que vem cá fazer? Curioso...

- Por Deus, vem receber! Apenas falta saber quanto.

- Sabê-lo-ás daqui a pouco, amigo.

- Muito bem; mas que não aconteça como no outro dia, em que me deste uma informação falsa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069