O Conde de Monte Cristo - Cap. 3: Os Catalães Pág. 16 / 1080

Contenta-te com aminha amizade porque, repito-te, é tudo o que te posso oferecer, e eu só ofereço aquilo que estou certa de poder dar.

- Compreendo - disse Fernand. - Suportas com paciência a tua miséria, mas tens medo da minha. Pois bem, Mercédès, amado por ti tentarei a fortuna; dar-me-ás sorte e enriquecerei. Posso tirar melhor partido da minha profissão de pescador; posso empregar-me numa casa comercial; posso eu próprio tornar-me comerciante!

- Não podes tentar nenhuma dessas coisas, Fernand. És soldado e se ainda estás nos Catalães é porque não há guerra. Continua a ser pescador; não te entregues a sonhos que te fariam parecer a realidade ainda mais terrível, e contenta-te com a minha amizade, pois não te posso dar outra coisa.

- Tens razão, Mercédès, serei marinheiro. Terei, em vez do traje dos nossos pais, que desprezas, um chapéu de oleado, uma blusa às riscas e uma jaqueta azul com âncoras nos botões. Não é assim que me devo vestir para te agradar?

- Que queres dizer? - perguntou Mercédès, deitando-lhe um olhar imperioso. - Que queres dizer? Não te compreendo.

- Quero dizer, Mercédès, que só és tão dura e cruel para mim porque esperas alguém que se veste assim. Mas esse que esperas talvez seja inconstante, e se o não é, mar sê-lo-á por ele.

- Fernand, julgava-te bom, mas enganava-me! - gritou Mercédès. - Fernand, só um mau coração chamaria em auxílio do seu ciúme as cóleras de Deus! Sim, não o escondo mais, espero e amo aquele que dizes, e se ele não voltar, em vez de o acusar da inconstância a que te referes, direi que morreu amando-me.

O jovem catalão fez um gesto de raiva.

- Compreendo-te, Fernand odeia-lo porque não te amo e estás disposto a cruzar a tua navalha catalã com o seu punhal! Mas aonde te levará isso? A perderes a minha amizade se saíres vencido e a veres a minha amizade transformar-se em ódio se saíres vencedor. Acredita no que te digo: procurar brigar com um homem é uma péssima maneira de agradar à mulher que ama esse homem. Não, Fernand, não cedas assim aos teus maus pensamentos. Se não me podes ter como mulher, contenta-te com ter-me por amiga e irmã. E depois - acrescentou com os olhos nublados e cheios de lágrimas -, espera, espera, Fernand. Como disseste há pouco, o mar é pérfido, e já lá vão quatro meses que ele partiu; e nesses quatro meses contei muitas tempestades!

Fernand permaneceu impassível. Não procurou enxugar as lágrimas que rolavam pelas faces de Mercédès. E no entanto daria um copo do seu sangue por cada uma dessas lágrimas. Mas essas lágrimas corriam por outro.

Levantou-se, deu uma volta na cabana e tornou a parar diante de Mercédès, de olhos sombrios e punhos fechados.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069