O Conde de Monte Cristo - Cap. 21: A Ilha de Tiboulen Pág. 173 / 1080

Num esforço supremo, Dantès ergueu-se imediatamente quase de pé na água, agitou o barrete e soltou um desses gritos arrepiantes como os dos marinheiros em perigo e que parecem lamentos de qualquer génio do mar.

Desta vez viram-no e ouviram-no. A tartana interrompeu a sua manobra e aproou para o seu lado. Ao mesmo tempo, Dantès viu que se preparavam para lançar uma chalupa ao mar.

Pouco depois a chalupa, tripulada por dois homens, dirigiu-se ao seu encontro, batendo o mar com o seu remo duplo. Dantès deixou então deslizar a trave, de que pensava já não necessitar, e nadou vigorosamente para poupar metade do caminho aos que vinham ao seu encontro.

O nadador contara porém com forças quase esgotadas. Foi então que teve consciência de como lhe fora útil o bocado de madeira que flutuava já, inerte, a cem passos de si. Os braços começavam a ficar-lhe dormentes e as pernas tinham perdido a flexibilidade. Os seus movimentos eram rígidos e sacudidos e tinha o peito arquejante.

Soltou um grande grito, os dois remadores redobraram de energia e um deles gritou-lhe em italiano:

- Coragem! A palavra chegou-lhe aos ouvidos no momento em que uma vaga que já não tivera força para transpor lhe passava por cima da cabeça e o cobria de espuma.

Reapareceu batendo o mar com os movimentos desencontrados e desesperados de um homem prestes a afogar-se, soltou terceiro grito e sentiu-se mergulhar no mar como se ainda tivesse agarrado aos pés o pelouro mortal.

A água passou-lhe por cima da cabeça e através dela viu o céu lívido com manchas negras.

Um esforço violento trouxe-o à superfície. Pareceu-lhe então que o agarravam pelos cabelos. Depois, não viu nem ouviu mais nada; desmaiara.

Quando reabriu os olhos, Dantès encontrou-se na coberta da tartana, que continuava a sua rota. O seu primeiro olhar foi para verificar que direcção seguia: continuava a afastar-se do Castelo de If

Dantès estava tão exausto que a exclamação de alegria que soltou foi tomada por um gemido de dor.

Como dissemos, estava deitado na coberta e um marinheiro esfregava-lhe os membros com um cobertor de lã. Outro, que reconheceu ser o que lhe gritara «Coragem!», introduzia-lhe o gargalo de uma garrafa empalhada na boca. Um terceiro, velho marinheiro que era ao mesmo tempo o piloto e o patrão, olhava-o com o sentimento de compaixão egoísta que experimentam em geral os homens acerca de um infortúnio a que escaparam na véspera e que os pode atingir no dia seguinte.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069