O Conde de Monte Cristo - Cap. 23: A ilha de Monte-Cristo Pág. 190 / 1080

Quanto a ele, afirmou que precisava apenas de um bocadinho de repouso e que quando regressassem o encontrariam melhor. Os marinheiros não se fizeram demasiado rogados. Tinham fome, e o cheiro do cabrito chegava até eles e entre lobos-do-mar não se fazem muitas cerimónias.

Uma hora depois voltaram. Mas tudo o que Edmond conseguira fazer fora arrastar-se uma dezena de passos para se encostar a uma rocha musgosa. No entanto, longe de diminuírem, as dores de Dantès parece que tinham aumentado de violência. O velho patrão, obrigado a partir de manhã para ir descarregar nas fronteiras do Piemonte e da França, entre Nice e Fréjus, insistiu com Dantès para que tentasse levantar-se. O rapaz fez esforços sobre-humanos para lhe fazer a vontade, mas a cada esforço tornava a cair, a gemer e pálido.

- Tem os rins partidos - disse baixinho o patrão. - Não importa, é um bom companheiro e não devemos abandoná-lo.

Vejamos se conseguimos transportá-lo para a tartana.

Mas Dantès declarou que preferia morrer onde estava do que suportar as dores atrozes que lhe ocasionaria qualquer movimento, por mais ligeiro que fosse.

- Bom - disse o patrão - aconteça o que acontecer, ninguém dirá que deixámos sem socorro um bom companheiro. Só partiremos à tardinha.

Esta decisão surpreendeu muito os tripulantes, embora nenhum deles a desaprovasse, antes pelo contrário. O patrão era um homem muito rígido e viam-no pela primeira vez renunciar a uma empresa ou pelo menos adiar a sua execução.

Por isso Dantès não permitiu que por sua causa se cometesse tão grave infracção às regras de disciplina estabelecida abordo.

- Não - disse ao patrão -, fui imprudente e é justo que sofra as consequências da minha imprudência. Deixem-me uma pequena provisão de bolachas, uma espingarda, pólvora e balas para matar os cabritos, ou mesmo para me defender, e um enxadão para construir, se demorarem muito tempo a vir-me buscar, uma espécie de casa.

- Mas morrerás de fome - objectou o patrão.

- Prefiro assim - respondeu Edmond - a sofrer as dores inauditas que um só movimento me ocasiona.

O patrão virou-se para o lado do navio, que balouçava, com um princípio de aparelhagem, no portinho, pronto a fazer-se ao mar logo que a sua toilette estivesse concluída.

- Que havemos de fazer, maltês? - perguntou. - Não te podemos abandonar assim, mas também não podemos ficar...

- Partam, partam! - gritou Dantès.

- Estaremos pelo menos oito dias ausentes - declarou o patrão -e além disso teremos de nos desviar da nossa rota para te vir buscar.

- Escute - disse Dantès. - Se dentro de dois ou três dias encontrar algum barco de pesca ou outro que venha para estas paragens, recomende-me. Pagarei vinte e cinco piastras pelo meu regresso a Liorne. Se não encontrar nenhum barco, volte por cá.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069