O Conde de Monte Cristo - Cap. 25: O desconhecido Pág. 203 / 1080

O espelho dissera-lhe em Liorne que não corria o perigo de ser reconhecido. Aliás, tinha agora ao seu dispor todos os meios de se disfarçar. Assim, uma manhã, o iate, seguido do barquito, entrou ousadamente no porto de Marselha e deteve-se precisamente de fronte do sítio onde na noite de fatal memória o tinham embarcado para o Castelo de If

Não foi sem certo estremecimento que Dantès viu aproximar-se um gendarme no escaler da Sanidade. Mas com a segurança perfeita que adquirira apresentou-lhe um passaporte inglês que comprara em Liorne e mediante esse salvo-conduto estrangeiro, muito mais respeitado em França do que o nosso, desceu a terra sem dificuldade.

A primeira coisa que Dantès viu ao pôr o pé na Cannebière foi um dos marinheiros do Pharaon o homem servira sob as suas ordens e vinha a propósito para tranquilizar Dantès a respeito das mudanças que se tinham operado em si. Foi direito ao homem e fez-lhe várias perguntas às quais ele respondeu sem sequer deixar suspeitar, quer nas suas palavras, quer na sua fisionomia, que se lembrava de ter visto alguma vez aquele quelhe dirigia a palavra.

Dantès deu ao marinheiro uma moeda de ouro para lhe agradecer as informações. Um instante depois ouviu o bom homem correr atrás de si

Dantès voltou-se.

- Desculpe, senhor - disse o marinheiro -, mas com certeza enganou-se. Deve ter querido dar-me uma moeda de quarenta soldos e deu-me um duplo napoleão.

- De facto meu amigo, enganei-me - respondeu Dantès.

- Mas como a sua honestidade merece uma recompensa, aqui tem outro que lhe peço aceite para beber à minha saúde com os seus camaradas.

O marinheiro olhou para Dantès tão espantado que nem sequer se lembrou de agradecer e ficou a vê-lo afastar-se dizendo:

- É algum nabado vindo da índia.

Dantès continuou o seu caminho. Cada passo que dava oprimia-lhe o coração uma emoção nova. Todas as suas recordações de infância recordações indeléveis, eternamente presentes na memória, estavam ali erguiam-se a cada canto da praça, a cada esquina da rua, em cada cruzamento. Ao chegar ao fim da Rua de Noailles e ver a Alameda de Meilhan, sentiu os joelhos vergarem-se-lhe e quase caiu debaixo das rodas de uma carruagem. Por fim chegou à casa onde morara o pai. As aristolóquias e as capuchinhas tinham desaparecido da mansarda, onde outrora a mão do pobre homem as tratava com tanto cuidado.

Encostou-se a uma árvore e ficou algum tempo pensativo, a olhar os últimos andares da modesta casita.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069