O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 267 / 1080

- Então aconselha-me a aceitar?

- Oh, não digo isso! Vossa Excelência fará o que muito bem entender. Não desejaria dar-lhe um conselho nesta ocasião.

Franz reflectiu uns instantes, concluiu que aquele homem tão rico não poderia querer roubá-lo; visto trazer consigo apenas alguns milhares de francos, e como não entrevisse no meio de tudo aquilo senão uma excelente ceia, aceitou. Caetano foi levar-lhe a resposta.

Todavia, como dissemos, Franz era prudente. Por isso, procurou obter o maior número possível de pormenores acerca do seu estranho e misterioso anfitrião. Virou-se pois para o marinheiro que durante o diálogo depenara as perdizes com a gravidade de um homem orgulhoso das suas funções e perguntou-lhe como teriam chegado ali aqueles homens, visto não se ver nem barcas, nem spéronares, nem tartanas:

- A mim isso não me causa nenhuma estranheza - respondeu o marinheiro -, tanto mais que conheço o navio em que navegam.

- É bom, esse navio?

- Tomara Vossa Excelência um assim para dar a volta ao mundo.

- Quantas toneladas desloca?

- Mais de cem. Trata-se, de resto, de um navio extravagante, de um iate, como dizem os Ingleses, mas construído de forma a fazer-se ao mar com qualquer tempo.

- Onde foi construído?

- Ignoro-o, mas julgo-o genovês.

- E como é que um chefe de contrabandistas - continuou Franz ousa mandar construir no porto de Génova um iate destinado ao seu comércio?

- Não disse que o proprietário do iate fosse um contrabandista.

- Pois não, mas disse-o Gaetano, parece-me.

- Gaetano vira a tripulação de longe e ainda não falara com ninguém.

- Mas se esse homem não é um contrabandista, que é então?

- Um rico senhor que viaja por prazer.

-«Bom», pensou Franz, «as duas versões são tão diferentes que a personagem ainda se torna mais misteriosa.»

- E como se chama?

- Quando lho perguntam, responde que se chama Simbad, o Marinheiro. Mas duvido que seja esse o seu verdadeiro nome.

- Simbad, o Marinheiro?

- Sim.

- E onde habita esse senhor?

- No mar.

- De que país é?

- Não sei

- Já o viu?

- Algumas vezes.

- Que homem é?

- Vossa Excelência julgará por si mesmo.

- E onde vai receber-me?

- Sem dúvida no palácio subterrâneo de que vos falou Gaetano.

- E vocês nunca tiveram a curiosidade, quando vieram descansar aqui e encontraram a ilha deserta, de procurar penetrar nesse palácio encantado?

- Oh, decerto, Excelência, e por mais de uma vez! - confessou o marinheiro. - Mas as nossas buscas foram sempre inúteis. Examinámos a gruta por todos os lados e não encontramos a mais pequena passagem.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069