O Conde de Monte Cristo - Cap. 36: O Carnaval de Roma Pág. 349 / 1080

Albert pôs o ramo fresco no lugar do outro, mas conservou o ramo murcho na mão, e quando se cruzou de novo com a caleça, levou-o apaixonadamente aos lábios, o que pareceu divertir muito, não só a que lho atirara, mas também as suas loucas companheiras. O dia não foi menos animado do que a véspera. É até provável que um profundo observador tivesse notado um aumento de barulho e alegria. Viram por momentos o conde à sua janela, mas quando a carruagem tornou a passar ele já desaparecera. Escusado será dizer que a troca de galanteios entre Albert e a palhaça dos ramos de violetas durou todo o dia.

À noite, quando regressaram, Franz encontrou uma carta da embaixada em que lhe anunciavam que teria a honra de ser recebido no dia seguinte por Sua Santidade. Em todas as viagens que fizera anteriormente a Roma solicitara e obtivera o mesmo favor. E tanto por devoção como por reconhecimento, não quisera passar pela capital do mundo cristão sem depositar as suas respeitosas homenagens aos pés de um dos sucessores de S. Pedro que tem dado o raro exemplo de todas as virtudes.

Naquele dia não se tratava portanto para ele de pensar no Carnaval; porque apesar da bondade de que o Santo Padre rodeia a sua grandeza, é sempre com um respeito cheio de profunda emoção que as pessoas se inclinam diante do nobre e santo velho chamado Gregório XVI.

Quando saiu do Vaticano, Franz foi direito ao hotel e evitou até passar pela rua do Corso. Levava consigo um tesouro de pensamentos piedosos para os quais o contacto com as loucas alegrias da mascherata seria uma profanação. Albert regressou às cinco horas e dez minutos. Vinha eufórico. A palhacinha tornara a envergar o seu traje de camponesa e ao passar pela cale a de Albert tirara a máscara.

Era encantadora.

Franz apresentou a Albert as suas mais sinceras felicitações e ele recebeu-as como homem a quem são devidas. Reconhecera, dizia, por certos sinais de elegância inimitável, que a sua bela desconhecida pertencia à mais alta aristocracia. Estava decidido a escrever-lhe no dia seguinte.

Ao receber tal confidência, Franz notou que Albert parecia ter qualquer coisa a pedir-lhe, mas que no entanto hesitava em fazer-lhe o pedido. Insistiu, declarando-lhe antecipadamente que estava pronto a fazer em benefício da sua felicidade todos os sacrifícios que estivessem na sua mão, mas Albert fez-se rogar exactamente o tempo exigido por uma amistosa delicadeza. Por fim, confessou a Franz que lhe prestaria um grande favor se no dia seguinte lhe cedesse a caleça só para ele.

Albert atribuía à ausência do amigo a extrema bondade que tivera a bela camponesa em tirar a máscara.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069