O Conde de Monte Cristo - Cap. 40: O almoço Pág. 400 / 1080

- Sim, certamente - respondeu Morcerf. - Lembro-me muito bem dele. Mas como encarregou um núbio de lhe comprar uma casa em Paris e um mudo de lha mobilar? Deve ter feito tudo às avessas, o pobre infeliz.

- Engana-se, senhor. Estou certo, pelo contrário, de que escolheu todas as coisas a meu gosto; porque, como sabe, o meu gosto não é o de toda a gente. Ali chegou há oito dias e deve ter corrido toda a cidade com esse instinto que possui um bom cão de caça quando caça sozinho. Conhece os meus caprichos, as minhas fantasias, as minhas necessidades; deve ter tudo organizado à minha vontade. Sabia que eu chegaria hoje às dez horas e esperava-me desde as nove na Barreira de Fontainebleau. Entregou-me este papel - é o meu novo endereço. Tome, leia.

E Monte-Cristo passou um papel a Albert.

- Campos Elísios, 30 - leu Morcerf.

- Ora aí está uma coisa deveras original! - não pôde impedir-se de dizer Beauchamp.

- E muito principesca - acrescentou Château-Renaud.

- Como, não conhece a sua casa?! - perguntou Debray.

- Não - respondeu Monte-Cristo. Já lhes disse que não queria chegar atrasado. Mudei de fato na minha carruagem e apeei-me à porta do visconde.

Os jovens entreolharam-se. Ignoravam se tudo aquilo não seria uma farsa desempenhada por Monte-Cristo, mas tudo o que saía da boca daquele homem tinha, mal-grado o seu carácter original, tal cunho de simplicidade que se não podia supor que mentisse. Aliás, porque mentiria?

- Teremos portanto de nos contentar com prestar ao Sr. Conde todos os pequenos serviços que estão ao nosso alcance - disse Beauchamp.

- Eu, na minha qualidade de jornalista, abro-lhe todos os teatros de Paris.

- Obrigado, senhor - atalhou, sorrindo, Monte-Cristo mas o meu intendente já tem ordem para me reservar um camarote em cada um.

- E o seu intendente é também um núbio, um mudo? - perguntou Debray

- Não, senhor, é simplesmente um compatriota vosso, se é que um corso pode ser compatriota de alguém Mas o meu amigo conhece-o, Sr. de Morcerf.

- Será por acaso o excelente Signor Berluccio, que tão bem se saiu a alugar as janelas?

- Justamente, e viu-o nos meus aposentos no dia em que tive a honra de receber o senhor para almoçar. É um excelente homem, que foi um pouco soldado, um pouco contrabandista, um pouco de tudo o que se pode ser, enfim. Não juraria mesmo que não tenha tido os seus desaguisados com a Polícia, por uma ninharia, qualquer coisa como uma punhalada...

- E escolheu esse honesto cidadão do mundo para seu intendente, Sr. Conde? - perguntou Debray. - Quanto lhe rouba ele por ano?

- Bom... palavra de honra, não mais do que qualquer outro, tenho a certeza - respondeu o conde. - Mas serve-me bem, não conhece impossíveis e por isso conservo-o.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069