O Conde de Monte Cristo - Cap. 46: O crédito ilimitado Pág. 457 / 1080

Esta alocução feita diante de Ali, que permanecia impassível atendendo a que não percebia uma palavra de francês, produziu no Sr. Baptistin um efeito que compreenderão todos aqueles que estudaram a psicologia do criado francês.

- Procurarei conformar-me em todos os pontos com os desejos de V. Ex.a - disse. - Aliás, guiar-me-ei pelo Sr. Ali

- Oh, de modo nenhum! - redarguiu o conde, com uma frieza de mármore. - Ali tem muitos defeitos de mistura com as suas qualidades. Não siga portanto o seu exemplo, porque Ali é uma excepção. Não tem salário, não é um criado, é o meu escravo, o meu cão. Se faltasse ao seu dever, não o despediria, matava-o.

Baptistin arregalou os olhos.

- Duvida? - perguntou Monte-Cristo.

E repetiu a Ali as mesmas palavras que acabava de dizer em francês a Baptistin. Ali ouviu, sorriu, aproximou-se do amo, pôs um joelho no chão e beijou-lhe respeitosamente a mão. Este corolariozinho da lição levou ao cúmulo a estupefacção do Sr. Baptistin. O conde fez sinal a Baptistin para sair e a Ali para o seguir. Ambos passaram ao gabinete do conde, onde conversaram demoradamente.

Às cinco horas o conde tocou três vezes a campainha. Um toque chamava Ali, dois toques, Baptistin, e três toques, Bertuccio.

O intendente entrou.

- Os meus cavalos? - perguntou Monte-Cristo.

- Estão atrelados à carruagem, Excelência - respondeu Bertuccio. - Devo acompanhar o Sr. Conde?

- Não, apenas o cocheiro, Baptistin e Ali.

O conde desceu e encontrou atrelados à carruagem os cavalos que admirara de manhã na carruagem de Danglars.

Ao passar por eles deitou-lhe uma olhadela.

- São lindos, de facto - declarou -, e fez bem em comprá-los. Só é pena que tenha sido um bocadinho tarde...

- Excelência - atalhou Bertuccio -, tive muita dificuldade em os conseguir e ficaram muito caros.

- São por isso menos belos? - perguntou o conde, encolhendo os ombros.

- Se V. Ex.a está satisfeito é quanto basta - disse Bertuccio. - Aonde vai, Excelência?

- À Rua da Chaussée-d'Antin, a casa do Sr. Barão Danglars.

Esta conversa passava-se ao cimo da escadaria. Bertuccio deu um passo para descer o primeiro degrau.

- Espere, senhor - disse Monte-Cristo, detendo-o. - Preciso de um terreno à beira-mar, na Normandia, por exemplo, entre o Havre e Bolonha. Dou-lhe espaço, como vê, conviria que o terreno tivesse um portinho, uma enseadazinha, uma baiazinha, onde pudesse entrar e ficar com a minha corveta, que não precisa de mais de quinze pés de água. O navio estará sempre pronto a fazer-se ao mar, a qualquer hora do dia ou da noite que lhe dê ordem para isso. Informe-se junto de todos os notários de uma propriedade nas condições que lhe disse.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069