O Conde de Monte Cristo - Cap. 52: Toxicologia Pág. 513 / 1080

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- Meu Deus, senhora, haverá alguma coisa que se perca entre os homens? As artes deslocam-se e dão a volta ao mundo; as coisas mudam de nome, apenas, e o vulgo confunde-as; mas o resultado é sempre o mesmo. O veneno incide especialmente sobre este ou aquele órgão. Um sobre o estômago, outro sobre o cérebro, outro sobre os intestinos. O veneno provoca uma tosse e essa tosse, uma pneumonia ou qualquer outra doença catalogada no livro da ciência, o que a não impede de ser perfeitamente mortal, e que, mesmo que o não fosse, se tornaria, graças aos remédios que lhe administram os ingénuos médicos, em geral péssimos químicos, e que actuarão a favor da doença ou contra ela, conforme se queira. E aqui tem um homem morto com arte e dentro de todas as regras, a respeito do qual a justiça não tem nada a saber, como dizia um horrível químico meu amigo, o excelente abade Adelmonte de Taormine, da Sicília, que estudara profundamente esses fenómenos nacionais.

- É horrível, mas é admirável - disse a jovem senhora, imóvel de atenção.

- Julgava, confesso, todas essas histórias invenções da Idade Média.

- Sim, sem dúvida, mas aperfeiçoadas nos nossos dias. Para que julga que servem o tempo, os incentivos, as medalhas, as condecorações, os prémios Montyon, senão para conduzir a sociedade à sua maior perfeição? Ora o homem só será perfeito quando for capaz de criar e destruir como Deus. Já sabe destruir, tem meio caminho andado.

- De modo - prosseguiu a Sr.ª de Villefort, voltando invariavelmente ao seu tema - que os venenos dos Bórgias, dos Médicis, dos Renés, dos Ruggieri e mais tarde provavelmente do barão de Trenk, de que tanto têm abusado o drama moderno e o romance...

- Eram objectos de arte, minha senhora, e não outra coisa - respondeu o conde. - Julga que o verdadeiro sábio se dirige vulgarmente ao próprio indivíduo? Não. A ciência aprecia os ricochetes, as grandes audácias, a fantasia, se assim se pode dizer. Por exemplo, o excelente abade Adelmonte, de que lhe falava há pouco, procedera nesse campo a experiências surpreendentes.

- Deveras?

- Deveras. Cito-lhe apenas uma. Ele possuía um belíssimo quintal cheio de legumes, flores e frutos. Entre esses legumes escolhia o mais inofensivo de todos, uma couve, por exemplo. Durante três dias regava a couve com uma solução de arsénico.

Ao terceiro dia, a couve adoecia e amarelecia; era a altura de a cortar. Para toda a gente, parecia madura e conservava a sua aparência inofensiva; só para o abade Adelmonte estava envenenada.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069