O Conde de Monte Cristo - Cap. 7: O interrogatório Pág. 54 / 1080

- Trata-se portanto de uma conspiração? - perguntou Dantès, que começava, por se julgar livre, a sentir-se novamente dominado por um terror maior do que ao princípio. - Seja como for, senhor, como já lhe disse ignoro completamente o conteúdo da correspondência de que fui portador.

- Pois sim, mas sabe o nome daquele a quem era dirigida! - redarguiu Villefort, com voz abafada.

- Para lha entregar pessoalmente, senhor, era indispensável que o soubesse.

- Não mostrou esta carta a ninguém? - perguntou Villefort, lendo-a e empalidecendo à medida que a lia.

- A ninguém senhor, dou-lhe a minha palavra de honra!

- Toda a gente ignora que era portador de uma carta vinda da ilha de Elba e endereçada ao Sr. Noirtier?

- Toda a gente, senhor, exceto quem ma entregou.

- É demasiado, é ainda demasiado! - murmurou Villefort.

A fronte de Villefort nublava-se cada vez mais à medida que se aproximava do fim: os seus lábios brancos, as suas mãos trémulas e os seus olhos ardentes faziam passar pelo espírito de Dantès as mais dolorosas apreensões.

Terminada a leitura, Villefort deixou cair a cabeça nas mãos e ficou um instante acabrunhado.

- Oh, meu Deus! Que se passa senhor? - perguntou timidamente Dantès.

Villefort não respondeu. Mas passados alguns instantes levantou o rosto pálido e descomposto e releu segunda vez a carta.

- E diz que não sabe o que contém esta carta? - insistiu Villefort

- Dou-lhe a minha palavra de honra, repito, senhor, de que o ignoro - respondeu Dantès. - Mas que tem o senhor, meu Deus? Sente-se mal, quer que toque, quer que chame?

- Não, senhor - respondeu Villefort, levantando-se vivamente.

- Não se mexa, não diga nada; é a mim que compete dar ordens aqui e não ao senhor.

- Era apenas para o ajudar, senhor - protestou Dantès, magoado.

- Não preciso de nada, foi apenas uma indisposição passageira. Ocupe-se de si e não de mim, responda.

Dantès esperou o interrogatório anunciado por estas palavras, mas inutilmente: Villefort voltou a deixar-se cair na poltrona, passou a mão gelada pela testa coberta de suor e releu a carta pela terceira vez.

- Oh, se ele soubesse o que contém esta carta? - murmurou. - Se soubesse alguma vez que Noirtier é o pai de Villefort, seria eu quem estaria perdido, perdido para sempre!

E de vez em quando olhava para Edmond, como se o seu olhar pudesse quebrar a barreira invisível que encerra no coração os segredos que a boca guarda.

- Oh, deixemo-nos de hesitações! - exclamou de súbito.

- Mas, em nome do Céu, senhor - pediu o pobre rapaz -, se desconfia de mim, se tem suspeitas a meu respeito, interrogue-me e estou pronto a responder-lhe.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069