O Conde de Monte Cristo - Cap. 60: O telégrafo Pág. 580 / 1080

Capítulo LX - O telégrafo

O Sr. e a Sr.ª de Villefort souberam, ao regressar aos seus aposentos, que o Sr. Conde de Monte-Cristo, que viera visitá-los, fora introduzido na sala, onde os esperava. A Sr.ª de Villefort, demasiado emocionada para entrar assim de súbito, passou pelo seu quarto, enquanto o procurador régio, mais senhor de si, se dirigiu directamente para a sala.

Mas por mais senhor que fosse das suas sensações, por mais que soubesse compor o rosto, o Sr. de Villefort não conseguiu com igual facilidade afastar a nuvem que lhe toldava a fronte, de forma que o conde, cujo sorriso brilhava radioso, lhe não notasse o ar sombrio e pensativo.

- Oh, meu Deus, que tem, Sr. de Villefort?! - perguntou Monte-Cristo após os primeiros cumprimentos. - Terei chegado na altura em que redigia alguma acusação um tanto capital?

Villefort tentou sorrir.

- Não, Sr. Conde, aqui a única vítima sou eu - respondeu. - Sou eu que perco o meu processo e foi o acaso, a teimosia e a loucura que formularam a acusação.

- Que quer dizer? - perguntou Monte-Cristo com um interesse perfeitamente simulado. - Aconteceu-lhe realmente algum contratempo grave?

- Oh, Sr. Conde, nem vale a pena falar do caso! - respondeu Villefort com uma calma cheia de amargura. - Quase nada, uma simples perda de dinheiro.

- Com efeito - concordou Monte-Cristo -, uma perda de dinheiro é pouca coisa comparada com uma fortuna como a que o senhor possui e com um espírito filosófico e elevado como o seu!

- Por isso - redarguiu Villefort - não é tanto a questão de dinheiro que me preocupa, embora no fim de contas novecentos mil francos valham bem um pesar, ou pelo menos um gesto de despeito. Fere-me sobretudo o capricho do destino, do acaso ou da fatalidade (não sei como chamar ao poder que dirige o golpe que me fere) que destrói as minhas esperanças de fortuna e talvez o futuro da minha filha por intermédio de um velho regressado à infância.

- Meu Deus, o que aí vai! - exclamou o conde. - Novecentos mil francos, não foi o que o senhor disse? Na verdade, a importância merece ser lamentada, mesmo por um filósofo, como o senhor mesmo confessou. E quem lhe dá esse desgosto?

- O meu pai, de quem já lhe falei.

- O Sr. Noirtier? Deveras? Mas o senhor tinha-me dito, se me não engano, que ele estava completamente paralítico e que todas as suas faculdades se encontravam aniquiladas...

- Sim, as faculdades físicas, porque não se pode mexer nem falar, mas apesar disso pensa, quer e age como vê. Deixei-o há cinco minutos e neste momento está ocupado a ditar um testamento a dois notários.

- Mas então já fala?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069