O Conde de Monte Cristo - Cap. 63: O jantar Pág. 610 / 1080

- Na verdade, minha senhora, esse terror é verdadeiro? - perguntou Monte-Cristo.

- Não, senhor - respondeu a Sr.ª Danglars. - Mas o senhor tem uma maneira de supor as coisas que dá à ilusão o aspecto da realidade.

- Oh, meu Deus, tem razão! - exclamou Monte-Cristo, sorrindo.

- Tudo isto não passa de imaginação... Afinal, por que motivo não havemos antes de imaginar este quarto como um bom e respeitável quarto de mãe de família? E esta cama, com os seus cortinados cor de púrpura, como uma cama visitada pela deusa Lucina? E esta escada misteriosa como a passagem por onde, devagarinho, para não perturbar o sono reparador da parturiente, entra o médico ou a ama, ou o próprio pai, para levar o filho que dorme?...

Desta vez, a Sr.ª Danglars, em vez de se tranquilizar com tão suave visão, soltou um gemido e desmaiou por completo.

- A Sr.ª Danglars encontra-se mal - balbuciou Villefort. Talvez seja melhor transportá-la para a sua carruagem.

- Oh, meu Deus, e eu que me esqueci do meu frasco! - lamentou-se Monte-Cristo...

- Mas eu tenho o meu - disse a Sr.ª de Villefort.

E passou a Monte-Cristo um frasco cheio de um licor vermelho idêntico àquele cuja benfazeja influência o conde experimentara em Édouard.

- Ah!... - exclamou Monte-Cristo, recebendo-o das mãos da Sr.ª de Villefort.

- Sim - murmurou esta -, experimentei de acordo com as suas indicações e...

- E conseguiu?

- Creio que sim.

Tinham transportado a Sr.ª Danglars para o quarto contíguo.

Monte-Cristo deitou-lhe nos lábios uma gota do licor vermelho e ela voltou a si.

- Oh, que sonho horrível! - exclamou.

Villefort apertou-lhe fortemente o pulso para lhe fazer compreender que não sonhara.

Procuraram o Sr. Danglars. Mas, pouco propenso às impressões poéticas, descera ao jardim e conversava com o Sr. Cavalcanti pai acerca de um projecto de caminho-de-ferro de Liorne a Florença.

Monte-Cristo parecia desesperado. Deu o braço à Sr.ª Danglars e conduziu-a ao jardim, onde encontraram o Sr. Danglars a tomar o café entre os Srs. Cavalcanti pai e filho.

- Na verdade, minha senhora, assustei-a assim tanto? - perguntou Monte-Cristo à Sr.ª Danglars.

- Não, senhor. Mas, como sabe, as coisas impressionam-nos conforme a disposição de espírito em que nos encontramos.

Villefort esforçou-se por rir.

- E então, compreende, basta uma suposição, uma quimera...

- No entanto, acreditem ou não, se quiserem, estou convencido de que foi cometido um crime nesta casa - teimou Monte-Cristo.

- Cautela - recordou a Sr.ª de Villefort -, temos aqui o procurador régio...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069