O Conde de Monte Cristo - Cap. 8: O Castelo de If Pág. 64 / 1080

Quanto à sua vida em qualquer pais era coisa que não o preocupava. Em toda a parte os marinheiros eram raros e falava italiano como um toscano e espanhol como um natural de Castela-a- Velha. Viveria livre e feliz com Mercédès e com o pai, pois o pai também iria ter com ele, ao passo que assim estava prisioneiro, encerrado no Castelo de li, naquela prisão intransponível, sem saber o que era feito do pai nem de Mercédès, e tudo isso porque acreditara na palavra de Villefort. Era de enlouquecer. Por isso, Dantès rebolava-se furioso na palha fresca que lhe trouxera o carcereiro.

No dia seguinte, à mesma hora, o carcereiro voltou.

- Então, está hoje mais razoável do que ontem? - perguntou-lhe.

Dantès não respondeu.

- Que diabo, um pouco de coragem! - insistiu o carcereiro. - Deseja alguma coisa que esteja ao meu alcance? Vamos, diga.

- Desejo falar com o governador.

- O quê? Já lhe disse que é impossível - redarguiu o carcereiro com impaciência.

- Impossível porquê?

- Porque pelos regulamentos da prisão não é permitido aos prisioneiros pedir isso.

- Então, que é permitido aqui? - perguntou Dantès.

- Melhor alimentação, pagando, passear e às vezes livros.

- Não preciso de livros, não tenho nenhuma vontade de passear e acho a minha alimentação boa. Portanto, só quero uma coisa: ver o governador.

- Se continua a repetir-me sempre a mesma coisa, não lhe trago mais de comer - ameaçou-o o carcereiro.

- Se não me trouxeres mais de comer - ripostou Dantès -, morrerei de fome e pronto! O tom em que Dantès proferiu estas palavras provou ao carcereiro que o seu prisioneiro se daria por feliz se morresse.

Por isso, como qualquer prisioneiro rendia, bem feitas as contas, cerca de dez soldos por dia ao seu carcereiro, o de Dantès avaliou o prejuízo que lhe acarretaria tal morte e insistiu em tom mais ameno:

- Ouça, o que deseja é impossível. Portanto, não insista, pois não há exemplo de, a pedido de um prisioneiro, o governador ir à sua cela. Mas se o senhor se portar bem permitir-lhe-ão o passeio e é possível que um dia, enquanto passeia, o governador passe... Então, poderá dirigir-lhe a palavra e se ele lhe quiser responder é lá com ele.

- Mas quanto tempo posso esperar assim sem que esse acaso se verifique? - perguntou Dantès.

- Sei lá! - respondeu o carcereiro. - Um mês, três meses, seismeses, talvez um ano...

- É demasiado - redarguiu Dantès. - Quero vê-lo imediatamente.

- Bom, o melhor é não se entregar assim a um único desejo impossível ou antes de quinze dias estará louco.

- Achas? - perguntou Dantès.

- Sim, louco. é sempre assim que começa a loucura; temos cá um exemplo disso.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069