O Conde de Monte Cristo - Cap. 10: O gabinetezinho das Tulherias Pág. 72 / 1080

É um homem bem pensante, merecedor de toda a minha confiança e encarregado por mim de vigiar o Meio- Dia (o duque hesitou ao pronunciar estas palavras), que chega pela posta para me dizer: «Um grande perigo ameaça o rei.» É por isso que estou aqui, Sire.

- «Mala ducis ari domum» - continuou Luís XVIII a anotar.

- Vossa Majestade ordena-me que não volte a insistir neste assunto?

- Não, meu caro duque; mas estenda a mão.

- Qual?

- A que quiser, ali, à esquerda.

- Aqui, Sire?

- Digo-lhe à esquerda e você procura à direita... Quero dizer à minha esquerda. Aí... Acertou. Deve encontrar aí o relatório do ministro da Polícia datado de ontem... Mas veja, aí está o próprio Sr. Dandré... Não foi o Sr. Dandré que disse? - interrompeu-se Luís XVIII, dirigindo-se ao contínuo que, efetivamente, acabava de anunciar o ministro da Polícia.

- Foi, Sire, o Sr. Barão Dandré - repetiu o contínuo.

- Vem a propósito, barão - prosseguiu Luís XVIII com um sorriso imperceptível. - Entre, barão, e conte ao duque o que sabe de mais recente acerca do Sr. Bonaparte. Não nos dissimule nada da situação, por mais grave que seja. Vejamos, a ilha de Elba é um vulcão do qual vamos ver sair a guerra chame jante e toda eriçada: «Bella, horrida bella?»

O Sr. Dandré balouçou-se muito graciosamente nas costas de uma poltrona em que apoiava as mãos e disse:

- Vossa Majestade dignou-se consultar o relatório de ontem?

- Sim, sim. Mas diga ao duque, que o não consegue encontrar, o que continha o relatório. Descreva-lhe em pormenor o que faz o usurpador na sua ilha.

- Senhor - disse o barão ao duque -, todos os servidores de Sua Majestade se devem regozijar com as notícias que nos chegaram recentemente da ilha de Elba. Bonaparte...

O Sr. Dandré olhou para Luís XVIII que, ocupado a escrever uma nota, nem sequer levantou a cabeça.

- Bonaparte - continuou o barão - aborrece-se mortalmente. Passa dias inteiros a ver trabalhar os seus mineiros de Porto Longone.

- E coça-se para se distrair - observou o rei

- Coça-se? - estranhou o duque. - Que quer dizer Vossa Majestade? - Sim, sim, meu caro duque. Esquece-se de que esse grande homem, esse herói, esse semideus, sofre de uma doença de pele que o devora, o «purigo»? - Mas há mais, Sr. Duque - continuou o ministro da Polícia. - Temos quase a certeza de que dentro de pouco tempo o usurpador estará louco.

- Louco? - Doido varrido. A sua cabeça enfraquece; tão depressa se desfaz em lágrimas como ri a bandeiras despregadas. Outras vezes passa horas à beira-mar a lançar seixos à água, e quando o seixo faz cinco ou seis ricochetes parece tão satisfeito como se tivesse ganho um outro Marengo ou um novo Austerlitz.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069