O Conde de Monte Cristo - Cap. 10: O gabinetezinho das Tulherias Pág. 75 / 1080

- Então, Sire, devo mandá-lo entrar?

- Imediatamente, duque. Onde está ele?

- Deve esperar-me lá em baixo, na minha carruagem.

- Vá buscá-lo.

- Sem demora.

O duque saiu com a vivacidade de um rapaz; o ardor do seu realismo sincero dava-lhe vinte anos. Luís XVIII ficou só, passando os olhos pelo seu Horácio entreaberto e murmurando: «Justum et tenacem propositi virum

O Sr. de Blacas tornou a subir com a mesma rapidez com que descera; mas na antecâmara foi obrigado a invocar a autoridade do rei. A sobrecasaca poeirenta de Villefort, todo o seu traje, onde nada estava de acordo com a apresentação de corte, ferira as suas susceptibilidades do Sr. de Brézé, que ficou espantado com a pretensão daquele jovem de aparecer assim vestido diante do rei. Mas o duque arredou todas as dificuldades com uma única palavra: «Ordem de Sua Majestade.» E apesar das observações que continuou a fazer o mestre de cerimónias, para honrar os princípios, Villefort foi introduzido.

O rei estava sentado no mesmo lugar onde o deixara o duque. Ao abrir a porta, Villefort encontrou-se precisamente diante dele. O primeiro impulso do jovem magistrado foi deter-se.

- Entre, Sr. de Villefort, entre - disse o rei.

Villefort cumprimentou, deu alguns passos em frente e esperou que o rei o interrogasse.

- Sr. de Villefort - continuou Luís XVIII -, o duque de Blacas pretende que o senhor tem qualquer coisa importante a dizer-nos.

- Sire, o Sr. Duque tem razão e espero que Vossa Majestade seja o primeiro a reconhecê-lo.

- Antes de mais nada, senhor, o mal é assim tão grande, na sua opinião, como me querem fazer crer? - Sire, julgo-o instante; mas graças à diligência que fiz, julgo não ser irreparável.

- Fale à vontade, senhor - disse o rei, que começava ele próprio a ceder à emoção que perturbava o rosto do Sr. de Blacas e alterara a voz de Villefort. - Fale e sobretudo comece pelo princípio: gosto de ordem em todas as coisas.

- Sire - disse Villefort -, apresentarei a Vossa Majestade um relatório fiel, mas suplico-lhe me desculpe se a perturbação que me domina lançar alguma obscuridade nas minhas palavras.

Uma olhadela deitada ao rei depois deste exórdio insinuante assegurou a Villefort a benevolência de seu augusto ouvinte.

Continuou:

- Sire, dirigi-me o mais rapidamente possível para Paris a fim de informar Vossa Majestade de que no exercício das minhas funções descobri não uma dessas conspirações vulgares e sem consequências, como as que se tramam todos os dias nas últimas camadas do povo e do Exército, mas sim uma verdadeira conspiração, uma tempestade que ameaça nada menos do que o trono de Vossa Majestade.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069