O Conde de Monte Cristo - Cap. 79: A limonada Pág. 763 / 1080

- Mas a menina - atalhou Morrel -, a menina que é tão querida e necessária ao Sr. Noirtier?

- Eu - respondeu Valentine - não deixarei o meu avô. É ponto assente entre nós. O meu quarto será junto do seu. Ou terei o consentimento do Sr. de Villefort para ir morar com o avo Noirtier ou não terei. No primeiro caso, sairei daqui em qualquer momento a partir de agora; no segundo, esperarei pela minha maioridade, que será daqui a dezoito meses. Então serei livre, terei uma fortuna independente e...

- E?... - perguntou Morrel.

- E, com a autorização do meu avô, cumprirei a promessa que lhe fiz, Sr. Morrel.

Valentine pronunciou as últimas palavras tão baixo que Morrel as não teria ouvido sem o interesse que tinha em as devorar.

- Exprimi o seu pensamento, avô? - acrescentou Valentine, dirigindo-se a Noirtier.

- Sim - respondeu o velho.

- Uma vez em casa do meu avô - prosseguiu Valentine -, o Sr. Morrel poderá ver-me na presença deste bom e digno protector.

Se os laços que os nossos corações, talvez ignorantes ou caprichosos, começaram a dar parecerem convenientes e oferecerem garantias de felicidade futura à nossa experiência (infelizmente, diz-se, os corações estimulados pelos obstáculos estriam na segurança!... ), então o Sr. Morrel poderá pedir-me a mim mesma e eu esperá-lo-ei.

- Oh! - exclamou Morrel, tentado a ajoelhar diante do velho como diante de Deus, diante de Valentine como diante de um anjo. - Oh, que fiz eu de bem na minha vida para merecer tanta felicidade?!

- Até lá - continuou a jovem, na sua voz pura e severa - respeitaremos as conveniências e a própria vontade das nossas famílias, desde que essa vontade não queira separar-nos para sempre. Numa palavra, e repito esta palavra porque ela diz tudo: esperaremos.

- E os sacrifícios que essa palavra impõe, senhor - disse Morrel -, juro-lhe que os cumprirei, não com resignação, mas sim com felicidade.

- Assim - continuou Valentine com um olhar muito doce ao coração de Maximilien -, nada de imprudências, meu amigo; não comprometa aquela que, a partir de hoje, se considera destinada a usar pura e dignamente o seu nome. Morrel pôs a mão no coração.

Entretanto, Noirtier olhava ambos com ternura. Barrois, que ficara ao fundo como um homem a quem nada se oculta, sorria limpando as grossas gotas de suor que lhe caíam da calva.

- Oh, meu Deus, como está com calor o nosso bom Barrois! exclamou Valentine.

- Se soubesse o que corri, menina... - redarguiu Barrois. - Mas o Sr. Morrel, devo fazer-lhe essa justiça, corria ainda mais do que eu.

Noirtier indicou com a vista uma bandeja em que estavam uma garrafa de limonada e um copo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069