O Conde de Monte Cristo - Cap. 80: A acusação Pág. 772 / 1080

- Sim, reconheço. Que quer, não tenho outro remédio... Mas deixe-me continuar. Parece-me, repito, que esse crime cai apenas sobre mim e não sobre as vítimas. Suspeito de qualquer calamidade para mim debaixo de todos esses crimes estranhos...

- Oh, o Homem!... - murmurou Avrigny. - O mais egoísta de todos os animais, a mais pessoal de todas as criaturas, que julga sempre que a Terra gira, que o Sol brilha e que a morte ceifa apenas para ele, formiga que amaldiçoa Deus do cimo de uma ervinha! E os que perderam a vida, não perderam nada? O Sr. de Saint-Méran, a Sr.ª de Saint-Méran, o Sr. Noirtier...

- Como, o Sr. Noirtier?

- Sim, sim! Julga porventura que era o pobre criado que se pretendia envenenar? Não, não. Como o polaco de Shakespeare, morreu por outro. Era Noirtier quem devia beber a limonada; foi Noirtier quem a bebeu, segundo a ordem lógica das coisas.

O outro só a bebeu por acidente. E embora tenha sido Barrois quem morreu, era Noirtier quem devia morrer.

- Mas então por que motivo não sucumbiu o meu pai?

- Disse-lho uma noite no jardim, depois da morte da Sr.ª de Saint-Méran: porque o seu corpo está habituado a absorver esse mesmo veneno; porque a dose, insignificante para ele, era mortal para qualquer outro; porque, finalmente, ninguém sabe, nem mesmo o assassino, que há um ano trato com brucina a paralisia do Sr. Noirtier, embora o assassino não ignore, e disso se tenha assegurado por experiência própria, que a brucina é um veneno violento.

- Meu Deus! Meu Deus! - murmurou Villefort, torcendo as mãos.

- Siga os passos do criminoso: mata o Sr. de Saint-Méran.

- Oh, doutor! - Jurá-lo-ia. O que me disseram dos sintomas adapta-se muitíssimo bem ao que vi com os meus olhos.

Villefort deixou de resistir e gemeu.

- Mata o Sr. de Saint-Méran - repetiu o médico - e mata a Sr.ª de Saint-Méran: dupla herança a receber.

Villefort limpou o suor que lhe escorria da testa.

- Escute bem.

- Infelizmente, não perco uma palavra do que diz, uma só balbuciou Villefort.

- O Sr. Noirtier - prosseguiu implacavelmente o Sr. De Avrigny -, o Sr. Noirtier testara recentemente contra o senhor, contra a sua família, a favor dos pobres, enfim. O Sr. Noirtier é poupado porque se não espera nada dele. Mas assim que destrói o primeiro testamento, assim que faz o segundo, com medo, sem dúvida, de que faça um terceiro, atacam-no. O testamento é de anteontem, se não me engano. Como vê, não há tempo perdido.

- Misericórdia, Sr. de Avrigny!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069