O Conde de Monte Cristo - Cap. 12: Pai e Filho Pág. 85 / 1080

- Faço mais do que isso, senhor: salvo-o.

- Oh, diabo, o caso está a tornar-se dramático? Explica-te.

- Voltemos a esse clube da Rua Saint-Jacques, senhor.

- Parece que esse clube preocupa muito os senhores da Polícia. Porque o não procuraram melhor? Tê-lo-iam encontrado.

- Não o encontraram, mas estão-lhe no rasto.

- E a frase sacramental, já se sabe: quando a Polícia se encontra em apuros, diz que está no rasto e o Governo espera tranquilamente o dia em que ela vem dizer, de orelha murcha, que esse rasto se perdeu.

- Pois sim, mas encontraram um cadáver. O general Quesnel foi assassinado e em todos os países do mundo isso chama-se crime.

- Assassinado, dizes tu? Mas nada prova que o general tenha sido assassinado. Todos os dias se encontram pessoas no Sena, umas que se atiraram ao rio por desespero, outras que se afogaram por não saberem nadar.

- Meu pai, sabe muito bem que o general se não afogou por desespero e que ninguém toma banho no Sena em Janeiro. Não, não, não se iluda: essa morte está bem qualificada como assassínio.

- E quem a qualificou assim?

- O próprio rei

- O rei! Julgava-o suficientemente filósofo para compreender que em política não há assassínio. Em política, meu caro, sabe-lo tão bem como eu, não há homens, mas sim ideias. Não hásentimentos, mas sim interesses. Em política não se mata um homem, suprime-se apenas um obstáculo, mais nada. Queres saber como as coisas se passaram? Pois bem, vou-te dizer. Julgávamos poder contar com o general Quesnel; tinham-no-lo recomendado da ilha de Elba. Um de nós foi a sua casa e convidou-o a assistir na Rua Saint-Jacques a uma reunião onde encontraria amigos. Ele foi e lá revelaram-lhe todo o plano: a partida da ilha de Elba, o desembarque projectado, etc. Depois de ouvir tudo, de se inteirar de tudo, de não haver mais nada a explicar-lhe, respondeu que era monárquico. Então, todos se entreolharam. Pedem-lhe que jure nada revelar; acede, mas de tão má vontade, com franqueza, que é detentar Deus jurar assim. Bom, apesar de tudo deixaram o general sair livre, completamente livre. Se não regressou a casa, que queres que te diga, meu caro? Não há dúvida que saiu de junto de nós. Ter-se-á enganado no caminho, simplesmente. Assassínio! Na verdade, surpreendes-me, Villefort. Tu, substituto do procurador régio, forjar uma acusação sobre tão más provas... Nunca me passaria pela cabeça dizer-te, quando exerces o teu ofício de monárquico e mandas cortar a cabeça a um dos meus: «Meu filho, cometeste um assassínio!» Não, digo sempre: «Muito bem, senhor, combateste vitoriosamente; desforrar-nos-emos amanhã.»

- Mas, meu pai, acautele-se; essa desforra será terrível quando chegar a nossa vez.

- Não te compreendo.

- Conta com o regresso do usurpador?

- Confesso que conto.

- Engana-se, meu pai. Não penetrará dez léguas dentro de França sem ser perseguido, acossado como uma fera.

- Meu caro amigo, neste momento o imperador está na estrada de Grenoble, em 10 ou 12 estará em Lião e em 20 ou 25 em Paris.

- As populações vão-se sublevar...

- Para irem ao seu encontro.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069