- Sentiu morrer o seu pai na sua ausência? – perguntou Monte-Cristo metendo as mãos nos cabelos. - Viu a mulher que amava estender a mão ao rival, enquanto arquejava no fundo do abismo?...
- Não! - interrompeu-o Mercédès. - Mas vi aquele que amava prestes a tornar-se o assassino do meu filho!
Mercédès proferiu estas palavras com uma dor tão pungente, num tom tão desesperado, que um soluço dilacerou a garganta do conde ao ouvi-la.
O leão estava domado, o vingador estava vencido.
- Que deseja? - perguntou. - Que o seu filho viva? Pois bem, viverá!
Mercédès soltou um grito que fez brotar duas lágrimas dos olhos de Monte-Cristo, mas essas duas lágrimas desapareceram quase imediatamente, pois sem dúvida Deus enviou algum anjo para as recolher, visto serem muito mais preciosas aos olhos do Senhor do que as mais ricas pérolas de Guzarate e Ofir.
- Obrigada, obrigada, Edmond! - exclamou ela, pegando na mão do conde e levando-a aos lábios. - Agora, sim, és bem como sempre te sonhei, como sempre te amei! Oh, agora posso dizê-lo!
- Tanto melhor - redarguiu Monte-Cristo -, pois o pobre Edmond não terá muito tempo para ser amado pela senhora. A morte vai regressar ao túmulo, o fantasma vai desaparecer na noite.
- Que diz, Edmond?
- Digo que, já que assim o ordena, Mercédès, tenho de morrer.
- Morrer?... E quem é que disse isso? Quem fala em morrer? Donde lhe vêm essas ideias de morte?
- Decerto não supõe que, ultrajado publicamente diante de toda uma sala, na presença dos seus amigos e dos amigos do seu filho, provocado por uma criança que se vangloriará do meu perdão como de uma vitória... não supõe, decerto, repito, que eu tenha um instante o desejo de viver? O que mais amo depois de si, Mercédès, é a minha própria pessoa, isto é, a minha dignidade, essa força que me tornava superior aos outros homens.