O Conde de Monte Cristo - Cap. 2: O pai e o filho Pág. 9 / 1080

Mas as forças faltaram-lhe e o velho deixou-se cair para trás.

- Então, então! - exclamou o rapaz. - Tome um copo de vinho, meu pai; vai ver que o reanima. Onde tem o vinho?

- Não, obrigado, escusas de o procurar; não é preciso - redarguiu o velho, procurando reter o filho.

- Não é preciso, não é preciso... Então, pai, diga-me onde está - e abriu dois ou três armários.

- I nútil... - murmurou o velho - já não há vinho.

- Como, já não há vinho?! - surpreendeu-se Dantès, empalidecendo por seu turno e olhando alternadamente para as faces cavadas e macilentas do velho e para os armários vazios.

- Como é que já não há vinho? Tiveste falta de dinheiro, meu pai?

- Não tenho falta de nada desde que estás aqui - respondeu o velhote.

- No entanto - balbuciou Dantès, limpando o suor que lhe escorria da testa -, no entanto, deixei-lhe duzentos francos quando parti há três meses.

- Sim, sim, Edmond, é verdade. Mas quando partiste esqueceste-te de uma pequena dívida em casa do vizinho Caderousse. Ele lembrou-ma e disse-me que se a não pagasse por ti iria pedir o pagamento ao Sr. Morrel. Então, compreendes, com medo que isso te prejudicasse…

- Que fez?

- Que fiz? Paguei-a eu.

- Mas eu devia cento e quarenta francos a Caderousse exclamou Dantès.

- Pois devias - balbuciou o velhote.

- E pagou-lhos dos duzentos francos que lhe deixei? O velhote acenou que sim com a cabeça.

- De modo que viveu três meses com sessenta francos! - murmurou o rapaz.

- Bem sabes que me contento com pouco - disse o velhote.

- Oh, meu Deus, meu Deus, perdoai-me! - exclamou Edmond, caindo de Joelhos diante do pobre homem.

- Que fazes?

- Oh, dilacerou-me o coração! Mas agora estás aqui - observou o velhote, sorrindo. – Agora está tudo esquecido porque tudo está bem.

- Sim, estou aqui - disse o rapaz. - Estou aqui com um excelente futuro e algum dinheiro. Tome, pai. Tome, tome e mande buscar imediatamente qualquer coisa.

E despejou em cima da mesa as algibeiras, que continham uma dúzia de moedas de ouro, cinco ou seis moedas de cinco francos e alguns trocos.

O rosto do velho Dantès iluminou-se.

- De quem é isso? – perguntou.

- Mas... é meu!... É teu!... É nosso!... Tome, compre comida.

Sejamos felizes. Amanhã haverá mais.

- Devagar, devagar... - contrapôs o velhote, sorrindo. - Com tua licença, servir-me-ei moderadamente da tua bolsa. Se me vissem comprar demasiadas coisas ao mesmo tempo, julgariam que me vi obrigado a esperar o teu regresso para as adquirir.

- Faz como quiseres. Mas antes de mais nada toma uma criada, pai.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069