O Conde de Monte Cristo - Cap. 100: A aparição Pág. 942 / 1080

Assim, preservou a neta bem amada contra a substância mortal, e a substância mortal perdeu grande parte da sua eficácia devido a esse princípio de habituação! Aí está porque se encontra ainda viva, o que eu não compreendia, depois de ser envenenada há quatro dias com um veneno que habitualmente não perdoa.

- Mas quem é o assassino?

- Uma pergunta: nunca viu entrar ninguém, de noite, no seu quarto?

- Vi. Muitas vezes julguei ver passar como que umas sombras... essas sombras aproximarem-se, afastarem-se e desaparecerem; mas tomava-as por visões da minha febre e ainda há pouco, quando o senhor mesmo entrou... Bom, julguei durante muito tempo que delirava ou sonhava.

- Portanto, não conhece a pessoa que lhe quer tirar a vida?

- Não - respondeu Valentine. - Porque havia alguém de me desejar a morte?

- Vai conhecê-la, então - respondeu Monte-Cristo, apurando o ouvido.

- Como assim? - perguntou Valentine, olhando com terror à sua volta.

- Porque esta noite a Valentine já não tem febre nem delira; porque esta noite está bem acordada, porque acaba de dar meia-noite, a hora dos assassinos.

- Meu Deus, meu Deus!... - murmurou Valentine, enxugando com a mão o suor que lhe perlava a testa.

Com efeito, soava lenta e tristemente a meia-noite e dir-se-ia que cada pancada do martelo de bronze batia no coração da jovem.

- Valentine - continuou o conde -, chame todas as suas forças em seu socorro, comprima o coração no peito, contenha a voz na garganta, finja dormir... e verá, verá! Valentine pegou na mão do conde.

- Parece-me ouvir um ruído - disse. - Retire-se!

- Adeus, ou antes até breve - respondeu o conde.

Depois, com um sorriso tão triste e tão paternal que o coração da jovem se sentiu cheio de reconhecimento, alcançou em bicos de pés a porta da estante.

Mas, virando-se antes de a fechar atrás de si, recomendou:

- Nem um gesto, nem uma palavra. É necessário que a julguem a dormir, pois de contrário talvez a matassem antes de eu ter tempo de acorrer.

E depois desta pavorosa recomendação, o conde desapareceu atrás da porta, que se fechou silenciosamente.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069