- Mas quem é o assassino?
- Uma pergunta: nunca viu entrar ninguém, de noite, no seu quarto?
- Vi. Muitas vezes julguei ver passar como que umas sombras... essas sombras aproximarem-se, afastarem-se e desaparecerem; mas tomava-as por visões da minha febre e ainda há pouco, quando o senhor mesmo entrou... Bom, julguei durante muito tempo que delirava ou sonhava.
- Portanto, não conhece a pessoa que lhe quer tirar a vida?
- Não - respondeu Valentine. - Porque havia alguém de me desejar a morte?
- Vai conhecê-la, então - respondeu Monte-Cristo, apurando o ouvido.
- Como assim? - perguntou Valentine, olhando com terror à sua volta.
- Porque esta noite a Valentine já não tem febre nem delira; porque esta noite está bem acordada, porque acaba de dar meia-noite, a hora dos assassinos.
- Meu Deus, meu Deus!... - murmurou Valentine, enxugando com a mão o suor que lhe perlava a testa.
Com efeito, soava lenta e tristemente a meia-noite e dir-se-ia que cada pancada do martelo de bronze batia no coração da jovem.
- Valentine - continuou o conde -, chame todas as suas forças em seu socorro, comprima o coração no peito, contenha a voz na garganta, finja dormir... e verá, verá! Valentine pegou na mão do conde.
- Parece-me ouvir um ruído - disse. - Retire-se!
- Adeus, ou antes até breve - respondeu o conde.
Depois, com um sorriso tão triste e tão paternal que o coração da jovem se sentiu cheio de reconhecimento, alcançou em bicos de pés a porta da estante.
Mas, virando-se antes de a fechar atrás de si, recomendou:
- Nem um gesto, nem uma palavra. É necessário que a julguem a dormir, pois de contrário talvez a matassem antes de eu ter tempo de acorrer.
E depois desta pavorosa recomendação, o conde desapareceu atrás da porta, que se fechou silenciosamente.