O Conde de Monte Cristo - Cap. 102: Valentine Pág. 950 / 1080

Quis meter o braço na cama, junto do corpo; mas o braço só lhe respondeu com a rigidez medonha que não podia enganar uma enfermeira.

A mulher soltou um grito horrível.

Depois, correu para a porta a gritar:

- Socorro! Socorro!

- Quem é que pede socorro? - perguntou do fundo da escada a voz do Sr. de Avrigny.

Era a hora a que o médico tinha o hábito de vir.

- Quem está a pedir socorro? - gritou a voz de Villefort, o qual saiu precipitadamente do seu gabinete. - Não ouviu gritar por socorro, doutor?

- Ouvi, ouvi. Subamos - respondeu Avrigny. - Subamos depressa ao quarto de Valentine.

Mas antes de o médico e o pai entrarem, os criados, que se encontravam no mesmo andar, nos quartos e nos corredores, anteciparam-se-lhes e, vendo Valentine pálida e imóvel na cama, levantaram as mãos ao céu e cambalearam como se sentissem vertigens.

- Chamem a Sr.ª de Villefort! Acordem a Sr.ª de Villefort! - gritou o procurador régio da porta do quarto, no qual parecia não se atrever a entrar.

Mas os criados, em vez de obedecerem, olhavam para o Sr. de Avrigny, que entrara, correra para Valentine e a erguia nos braços.

- Mais esta!... - murmurou, deixando-a cair. - Oh, meu Deus, meu Deus, quando vos cansareis?!

Villefort entrou no quarto.

- Que diz o senhor, meu Deus? - gritou, erguendo as mãos ao céu. - Doutor!... Doutor!...

- Digo que Valentine morreu! - respondeu Avrigny, numa voz solene e terrível na sua solenidade.

O Sr. de Villefort caiu de joelhos como se as pernas se lhe tivessem partido e escondeu o rosto no leito de Valentine.

Ao ouvirem as palavras do médico e os gritos do pai, os criados, aterrados, fugiram soltando imprecações abafadas. Ouviram-se nas escadas e nos corredores os seus passos precipitados, depois grande movimento nos pátios e em seguida mais nada; o ruído extinguiu-se. Do primeiro ao último, tinham abandonado a casa maldita.

Neste momento, a Sr.ª de Villefort, com um braço meio metido na manga do roupão, levantou a tapeçaria. Por um instante permaneceu no limiar, com ar de quem interroga os presentes e procurando chamar em seu auxílio algumas lágrimas rebeldes.

De súbito deu um passo, ou antes um salto em frente, com os braços estendidos para a mesa.

Acabava de ver Avrigny inclinar-se curiosamente sobre o móvel e pegar no copo que estava certa de ter despejado durante a noite.

O copo encontrava-se um terço cheio, precisamente como estava quando ela despejara o seu conteúdo nas cinzas.

O fantasma de Valentine erguido diante da envenenadora produziria menos efeito sobre ela.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069