O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 33: CAPÍTULO VI Pág. 188 / 245

Não imaginem por isso que também careço de força moral precisa para guardar um segredo, à custa que seja da minha própria vida! Interrogado por gente mascarada, que não conhecia, era-me licito mentir, pôr também na resposta uma mascara. Diante de gente de bem, que me interroga invocando a sua honra, o meu dever é calar-me. Previno-os de que são absolutamente inúteis todas as tentativas que fizerem para me obrigarem a outra coisa.

- Não é difícil de cumprir o seu dever! observou com ironia o mascarado alto. O corpo daquele desgraçado não pode ficar ali por mais tempo. É

urgente que tomemos uma deliberação decisiva e que salvemos a responsabilidade que pesa sobre nós, de modo tal que fique para sempre tranquila a consciência que nos ditar o conselho que houvermos de seguir. Visto que este senhor se recusa a começar, começarei eu.

E traçou sobre uma folha de papel as seguintes linhas, que ia pronunciando ao mesmo tempo que as escrevia:

«Minha prima.

«Na rua de… n.º… acham-se neste momento reunidos diante de um cadáver os seguintes homens: (seguiam-se os nossos nomes). É um tribunal supremo constituído pelo acaso e que vai julgar em derradeira e única instancia o crime sujeito pela fatalidade à nossa jurisdição. Se em presença deste tribunal a minha prima tiver que depor, peço-lhe que o faça.»

- Perdão… - observei eu. - Peço licença para acrescentar uma linha:

«A. M. C. não devolve a chave.»

* * * * *

Ele escreveu o que ditei, assignou, dobrou o papel, e disse a um dos seus amigos:

- Vai já entregar este escrito à condessa de W…

Meia hora depois uma carruagem que percorrera a rua a galope parou à porta do prédio em que estávamos. Rolámos para dentro da alcova o sofá em que se achava o cadáver, e cerrámos o reposteiro da sala.





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