CAPÍTULO V Ritmel chegou. A primeira vez que o vi foi na minha casa.
O conde estava então em Bruxelas. Era noite e na minha sala de música achavam-se reunidas algumas pessoas: a marquesa de… velha legitimista, que fora a graça da corte toureira de D. Miguel; o visconde de… rapaz insignificante e vagamente loiro, que eu acolhia bem, porque sua irmã, que morrera, fora a minha íntima, a minha confidente de colégio.
Viera também a viscondessa de… pequenita criatura petulante e medíocre, que tinha a graça de ter vinte anos, junta com a desgraça de os não saber ter e cuja especialidade era o querer parecer profundamente perversa, quando era apenas perfeitamente incaracterística. Mas ao pé de mim, sentado num sofá com um abandono asiático, estava um homem verdadeiramente original e superior, um nome conhecido - Carlos Fradique Mendes. Passava por ser apenas um excêntrico, mas era realmente um grande espirito. Eu estimava-o, pelo seu carater impecável, e pela feição violenta, quase cruel, do seu talento. Fora amigo de Carlos Beaudelaire e tinha como ele o olhar frio, felino, magnético, inquisitorial. Como Beaudelaire, usava a cara toda rapada: e a sua maneira de vestir, de uma frescura e de uma graça singular, era como a do poeta seu amigo, quase uma obra de arte, ao mesmo tempo exótica e correta. Havia em todo o seu exterior o que quer que fosse da feição romântica que tem o Satan de Ari Shefer, e ao mesmo tempo a fria exatidão de um gentleman. Tocava admiravelmente violoncelo, era um terrível jogador de armas, tinha viajado no Oriente, estivera em Meca, e contava que fora corsário grego. O seu espirito tinha um imprevisto profundo e que fazia cismar: fora ele que dissera da pálida duquesa de Morni: ele a la bêtise melancolique dun ange.