CAPÍTULO IX Sosseguei. Vencida, fiquei numa chaise longue, muda e como morta. Olhava maquinalmente a carruagem da luz.
- Bety, disse eu, deita-te. Eu estou bem. Vai…
Ela saiu, chorando. O quarto estava mal alumiado. Eu via, fora, as ramagens do jardim, recortando-se num relevo negro sobre o pálido céu, cheio da lua. Estive muito tempo assim, olhando, sem consciência e sem vontade. Lentamente, creio, comecei pensando em coisas alheias aos interesses da minha dor: lembrava-me a forma de um vestido que eu tinha desenhado para a Aline.
Por fim ergui-me, passeei muito tempo no quarto, o movimento chamou-me à consciência e à verdade das minhas aflições. Arranquei a folha de uma carteira, e escrevi a lápis tumultuosamente: «Tem razão, tem razão. Espero-o amanhã às 10 horas da noite na casa… Até lá não lhe direi que o amo; só lá lhe direi o que sofro.»
Eu mesma saí ao corredor, e do alto da escadaria, silenciosa, alumiada por um grande globo fosco, chamei um criado, André, imbecil e indiscreto, e atirei-lhe o bilhete lacrado, dizendo-lhe:
- Leve esse bilhete já… Vá numa carruagem.
E indiquei-lhe a casa do meu primo. Ritmel estava hospedado lá.
Vim sentar-me à janela do meu quarto: vinha um aroma suave do jardim; o luar, as grandes sombras, tinham um repouso romântico e triste. Lentamente, a minha desgraça começou aparecendo-me inteira, nítida, em pormenores, numa grande síntese, como se fosse um mapa.
Eu era traída! Aos vinte e três anos, com todas as inteligências da paixão, com todos os delicados prestígios do luxo, era traída, era traída! Senti então pela primeira vez a presença do ciúme, esse personagem tão temido, tão cantado nas epopéias, tão arrastado pela rampa do teatro, tão conhecido da