QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I Senhor redator. - A pessoa que lhe escreve esta carta é a mesma que nessa aventura da estrada de Sintra, popularizada pela carta do doutor ***, guiou a carruagem para Lisboa. Sou já conhecido, com a minha mascara de cetim preto e a minha estatura, por todas as pessoas que tenham seguido com interesse a sucessiva aparição destes segredos singulares; eu era nas cartas do doutor *** designado pelo - mascarado mais alto. - Sou eu. Nunca supus que me veria na necessidade lamentável de vir ao seu jornal trazer também a minha parte de revelações! Mas desde que vi as acusações improvisadas, sem análise e sem logica, contra o doutor*** e contra mim, eu devia ao respeito da minha personalidade e à consideração que me merece a impecável probidade do doutor *** o vir afastar todas as contradições hipotéticas e todas as improvisações gratuitas, e mostrar a verdade real, implacável, indiscutível. Detinha-me o mais forte escrúpulo que pode dominar um carater altivo: era necessário falar numa mulher, e arrastar pelas páginas de um jornal, o que há no ser feminino de mais verdadeiro e de mais profundo: a história do coração. Hoje não me retêm essas considerações; tenho aqui, diante da página branca em que escrevo, sobre a minha mesa, este bilhete simples e nobre: - «Vi as acusações contra si e os seus amigos, e contra aquele dedicado doutor ***. Escreva a verdade, imprima-a nos jornais. Esconda o meu nome com uma inicial falsa apenas. Eu já não pertenço ao mundo, nem às suas análises, nem aos seus juízos. Se não fizer isto, denuncio-me à polícia.»
Apesar porém destas grandes e sinceras palavras, eu resolvi nada revelar do crime, e contar apenas os fatos anteriores que me tinham