CAPÍTULO II Sr. Redator. - Em Gibraltar fomos para Club House-Hotel. Os quartos abriam sobre a muralha do mar; víamos em frente, afogada numa luz admirável, uma linha de montanhas, e mais longe, do lado do estreito, nas brumas esbatidas, a terra de Africa.
Fomos passear logo num daqueles carros de Gibraltar que são dois bancos paralelos, costas com costas, assentes sobre duas rodas enormes, puxados por um cavalo inglês robusto, rápido, e tendo já adquirido nas convivências espanholas um espirito teimoso.
O belo passeio de Gibraltar é uma estrada, que, a meia vertente por cima da cidade, contorna a montanha, e é orlada de cottages, de jardins, de pomares, cheios já das estranhas e poderosas vegetações do Oriente, aloés, nopais, catos e palmeiras; e vê-se sempre, através da folhagem, lá no fundo, a azul imobilidade luminosa do Mediterrâneo.
A condessa estava encantada: aquela luz ampla e magnífica, a água pesada pelo sol, o silêncio religioso do espaço azul, as brumas vaporosas e roxas das montanhas, a vigorosa força das vegetações, tudo dava àquela pobre alma contraída uma expressão inesperada. Ria, queria correr, tinha verve, e uma luz bailava-lhe nos olhos.
Fomos sentar-nos no jardim de Gibraltar. Os senhores ingleses artilharam-no talvez um pouco de mais. Não há fontes, mas há estátuas de generais; as pirâmides de balas estão encobertas pelas moitas de rosas, e a estupida impassibilidade dos canhões assenta sob arbustos de magnólias. Mas que serenidade! Que silencio abstrato e divino! Que ar imortal! Parece que as coisas, os seres vegetais, a terra, a luz, tudo está parado, absorto numa contemplação, suspenso, escutando, respirando sem rumor! Em baixo está o Mediterrâneo, liso como um cetim, delicado, coberto de luz.