CAPÍTULO XI Corri ao jardim. Os meus passos instintivamente, apressaram-me para o lado da pequena porta verde aberta no muro.
Estava aberta. Ao lado, junto de uma moita de baunilhas, estendido no chão, levemente apoiado no cotovelo, vi Ritmel.
- Então? gritei-lhe, abaixando-me ansiosamente para ele.
- Só ferido…
- Como? onde?
Não respondeu, os olhos cerraram-se e desfaleceu sobre a relva.
Corri ao tanque, trouxe um lenço ensopado em água, molhei-lhe as faces e as mãos: a ferida era na parte superior do peito, do lado direito, por baixo da clavícula. Vi que não era mortal.
Eu estava numa extrema hesitação. Para onde levar aquele homem?
O mais racional era conduzi-lo a um quarto do hotel; mas isso era dar ao fato uma publicidade ruidosa, faze-lo cair sob o domínio da polícia, arrastar até à ação dos tribunais ingleses o nome da condessa. Porque eu tinha compreendido tudo. Sabia agora, bem, quem na véspera entrara rapidamente pela porta verde com uma chave falsa. Sabia bem a quem pertencia o punhal índio achado nas moitas de buxo. Compreendia a comoção de Carmen, quando eu a surpreendera ali, no jardim, embuçada num burnous, esperando. E compreendia desgraçadamente a que quarto se dirigiam os passos de Ritmel dentro do jardim de Clarence-Hotel.
Era, pois, necessário encobrir aquela aventura. E Ritmel, apesar dos obscurecimentos do desmaio e da dor, tinha-o pensado também, porque me disse com uma voz expirante:
- Escondam-me em qualquer parte!
Saí logo à rua. Passava um daqueles carros ligeiros, de um só cavalo, que percorrem, com extrema velocidade, e com imensa doçura, as ruas inclinadas de La Valete. O vaturino era italiano. Falei-lhe vagamente num duelo, dei-lhe um punhado de xelins, ameacei-o com os policemen, e pu-lo absolutamente ao serviço do meu segredo.