O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 7: CAPÍTULO VI Pág. 36 / 245

Não me atrevi logo a tocar-lhe. Pus-me a contempla-lo, avida e longamente.

- Era então certo! aí estás pois! encontro-te finalmente!… Pobre cabelo! apieda-me a simplicidade inocente com que te ficaste aí, patente, descuidado, preguiçoso, languido! Podes ter maldade, podes ter malvadez, mas não tens malicia, não tens astucia. Tenho-te nas mãos, fito-te com os meus olhos; não foges, não estremeces, não coras; dás-te, consentes-te, facilitas-te, meiga, doce, confiadamente… E, no entanto, ténue, exígua, quase microscópica, és uma parte da mulher que eu adivinhava, que eu antevia, que eu procuro! É ela autora do crime? é inteiramente inocente? é apenas cúmplice? Não sei, nem tu mo poderás dizer?

De repente, tendo continuado a considerar o cabelo, por um processo de espírito inexplicável, pareceu-me reconhecer de súbito aquele fio louro, reconhece-lo em tudo: na sua côr, na sua nuance especial, no seu aspeto! Lembrou-me, apareceu-me então a mulher a quem aquele cabelo pertencia! Mas quando o nome dela me veio insensivelmente aos lábios, disse comigo:

- Ora! por um cabelo! que loucura!

E não pude deixar de rir.

Esta carta vai já demasiadamente longa. Continuarei amanhã.





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