O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 15: CAPÍTULO III Pág. 92 / 245

Logo que Catain Ritmel entrou na sala, seguindo a condessa, um homem que se debatia gulosamente no prato com a anatomia de uma ave fria, encarou-o, ergueu-se, e com uma alegria ruidosa gritou:

- Viva Dios! É Catain Ritmel! Eh! querido! mil abraços! Está gordo, hombre, está mais gordo!

Envolvia-o nos braços robustos, olhava-o ternamente com dois grandes olhos negros. Catain Ritmel depois do primeiro instante de surpresa, em que se fez pálido, apressou-se a ir apertar a mão a uma senhora, extremamente bela, que estava sentada ao pé daquele homem guloso e expansivo, o qual era um espanhol, negociante de sedas, e se chamava D. Nicazio Puebla.

A senhora, que se chamava Carmen, era cubana, e segunda mulher de D. Nicazio; era alta, de formas magníficas, com uma carnação que fazia lembrar um mármore pálido, uns olhos pretos que pareciam cetim negro coberto de água, e cabelos anelados, abundantes, desses a que Beaudelaire chamava tenebrosos. Vestia de seda preta e com mantilha.

- Estavam em Gibraltar? perguntou Catain Ritmel.

- Em Cadix, meu caro, disse D. Nicazio. Viemos ontem. Vamos a Malta. Volta para a India? Ah! Catain Ritmel, que saudade de Calcutá! Lembra-se hein?

- Catain Ritmel - disse sorrindo friamente Carmen - esquece depressa, e bem!

No entanto nós olhámos curiosamente para Carmen Puebla. O conde achava-a sublime. Eu admirado também, disse à condessa:

- Que formosa criatura!

- Sim! Tem ares de uma estátua malcriada, respondeu ela secamente.

Olhei para a condessa, ri:

- Oh prima! É uma mulher adorável, que devia ser em miniatura para se poder trazer nos berloques do relógio; uma mulher que decerto vou roubar, aqui no alto mar, num escaler; uma mulher cujos movimentos parecem música condensada!





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