Um Caso Tenebroso - Cap. 1: I - OS JUDAS Pág. 15 / 249

Que isso não volte a acontecer, e estou pronto a desculpar-te as tagarelices antigas.

O pequeno começou a chorar.

- Não chores; mas, se te perguntarem qualquer coisa, responde como os camponeses: «Não sei...» Andam para aí umas pessoas que me não querem bem. Vai-te embora! E vocês, ouviram? - disse Michu para as duas mulheres - bico calado, hem!

- Meu amigo, que vais tu fazer?

Michu, que media, atento, uma carga de pólvora e a despejava no cano da carabina, encostou a arma ao parapeito e disse para Marta:

- Nunca ninguém viu esta carabina; põe-te diante dela!

Couraut, que se erguera, rosnava, furioso.

- Rico cão! Cão inteligente! - exclamou Michu -; estou convencido de que são espiões...

Ambos adivinhavam estarem a ser espiados.

Couraut e Michu, dir-se-ia que com uma só alma, viviam juntos como o árabe e o seu cavalo vivem no deserto. O administrador conhecia todas as modulações do latir de Couraut e as ideias que ele exprimia, tal como o cachorro lia nos olhos do dono os seus pensamentos e os sentia exalarem-se-lhe no ar do seu corpo.

- Que te parece? - exclamou, em voz baixa;

Michu, apontando à mulher duas sinistras criaturas que surgiam numa álea lateral, dirigindo-se para a rotunda.

- Que é que se passa cá na terra? São parisienses! - comentou a velha.

- Ah! aí estão eles! - exclamou Michu. Esconde a carabina! - disse ao ouvido da mulher. - Dirigem-se para nós.





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