Algumas vezes ouvira, da boca das pessoas que trabalhavam na quinta da planície, conhecida por Bellache, à direita da avenida, e que era cultivada por um Beauvisage, homem dedicado aos Simeuse, quando essa gente passava diante do pavilhão:
- Cá está a casa dos Judas!
A singular semelhança entre a máscara do administrador e a do décimo-terceiro apóstolo, semelhança que dir-se-ia ele quisera completar, levara a gente da região a aplicar-lhe a odiosa alcunha. Essa desdita, e as vagas, constantes apreensões quanto ao futuro tornavam Marta pensativa e recolhida. Nada abate mais profundamente qualquer criatura que uma degradação imerecida e contra a qual nada se pode fazer. Pois não é verdade que um pintor teria feito um belo quadro desta família de párias, no seio de um dos mais belos sítios da Champagne, terra' geralmente triste?
- Francisco! - gritou o administrador, para que o filho se apressasse mais -ainda.
Francisco Michu, criança dos seus dez anos, gozava largamente do parque, da floresta, e aproveitava, como se dono fosse, todos os seus mínimos benefícios; comia a fruta das árvores, caçava, não tinha aflições nem mágoas; era o único membro feliz de tal família, tão isolada naquelas terras pela sua situação entre o parque e a floresta, como moralmente em virtude da reputação geral.
- Apanha isso - disse o pai ao filho, apontando para o parapeito - e junta tudo a um canto. Ouve! Gostas do teu pai e da tua mãe?
O pequeno precipitou-se para o pai, no intuito de o beijar; porém Michu fez um movimento para deslocar a carabina e repeliu-o de si.
- Escuta! Já não é a primeira vez que dás à língua sobre o que aqui se passa - disse ele cravando no pequeno os seus olhos, temíveis como os de um gato-bravo. -Ouve bem o que eu te digo: abrir o bico sobre a mais pequena coisa que aqui se faça, ao Gaucher, à gente de Grouage, ou de Bellache, e até mesmo à Mariana, que é nossa amiga, é matares o teu pai.