- Nem uma palavra! Deve estar tudo perdido; ao menos mostremos boa cara.
Marta não tinha estofo para resistir ao director do júri e ao acusador público reunidos. Aliás as provas contra ela eram muitas. Por indicação do senador, Lechesneau mandara buscar a côdea do último pão que Marta lhe levara, e que ele deixara no subterrâneo, bem como as garrafas vazias e alguns outros objectos. Durante as longas horas do seu cativeiro, Malin fizera conjecturas sobre a sua situação e procurara os indícios capazes de lhe mostrarem o rasto dos seus inimigos; naturalmente comunicou as suas observações ao magistrado. A casa de Michu, de I construção recente, devia ter um forno novo; como as telhas e os tijolos em cima dos quais o pão era cozido tinham de apresentar um desenho qualquer nas- suas juntas, poder-se-ia obter a prova da preparação- do pão no respectivo forno, recolhendo o desenho do lar, cujas ranhuras se encontravam na dita côdea. Depois as garrafas, lacradas com lacre verde, eram, sem dúvida, iguais às que se encontravam na adega de Michu. Estas subtis observações, comunicadas ao juiz de paz, que procedeu às respectivas investigações na presença de Marta, levaram aos resultados previstos pelo senador. Vítima da bonomia aparente com que Lechesneau, o acusador público, e o comissário do governo lhe deram a entender que uma confissão completa poderia salvar a vida do marido, no momento em que se viu esmagada por estas provas incontestáveis, Marta confessou que o esconderijo para onde o senador fora levado só era conhecido de Michu, dos Senhores de Simeusee de Hauteserre, e que ela levara comestíveis ao senador por três vezes.