- Fiz mal, minha senhora, em não lhe ter dito o nome do meu negociador - disse, por fim, o primeiro-ministro, ao ouvir o rolar da carruagem. Mas vou resgatar a minha falta e proporcionar-lhe a maneira de fazer as pazes com os Cinq-Cygne. Há mais de trinta anos que isso aconteceu; é tão velho como a morte de Henrique IV, a qual, realmente, aqui entre nós, apesar do provérbio, é das histórias menos conhecidas, como muitas outras catástrofes históricas. Juro-lhe, aliás, que se este caso não dissesse respeito à marquesa, nem por isso seria menos curioso. Enfim, esclarece um famoso passo dos nossos anais modernos, o do monte Saint-Bernard. Os senhores embaixadores terão ocasião de ver que, do ponto de vista da profundidade, os nossos políticos de hoje estão muito longe dos Maquiaveles que as marés do povo levantaram, em 1793, por cima das tempestades, e entre os quais alguns, encontraram um porto, como diz o romance. Para se ser hoje qualquer coisa em França é preciso ter rolado nos furacões desse tempo.
- Mas quer-me parecer - disse, sorrindo, a princesa - que nesse aspecto a vossa situação não deixa nada a desejar...
Um riso amável surgiu em todos os lábios, e De Marsay não pôde deixar de sorrir. Os embaixadores pareciam impacientes; De Marsay teve um ataque de tosse e todos se calaram.
- Por uma noite de Junho de 1800 - disse o primeiro-ministro -, pelas 3 horas da manhã, no momento em que o dia começava a fazer empalidecer as velas, dois homens, fartos de jogar às cartas, ou que apenas jogavam às cartas para entreter os outros, saíram do salão do palácio das relações exteriores, então situado na Rua du Bac, e dirigiram-se para um boudoir.