O Conde de Monte Cristo - Cap. 113: O passado Pág. 1047 / 1080

- Já não tenho vontade, conde, mas parece-me que esperarei menos penosamente aqui do que noutro sítio.

- Tanto melhor, Maximilien, porque o vou deixar, mas levo comigo a sua palavra, não é verdade?

- Oh, esquecê-la-ei, conde, esquecê-la-ei! - respondeu Morrel.

- Não, não a esquecera porque acima de tudo é um homem honrado, Morrel; porque jurou e porque vai jurar novamente.

- Conde, tenha compaixão de mim! Sou tão infeliz, conde!

- Conheci um homem mais infeliz do que o senhor, Morrel.

- Impossível.

- Claro! - exclamou Monte-Cristo, - É um dos orgulhos da nossa pobre humanidade cada homem julgar-se mais infeliz do que outro infeliz que chora e geme a seu lado.

- Quem pode ser mais infeliz do que o homem que perdeu o único bem que amava e desejava no mundo?

- Ouça, Morrel - disse Monte-Cristo -, e fixe um instante o espírito no que lhe vou dizer. Conheci um homem que, tal como o senhor, depositara todas as suas esperanças de felicidade numa mulher. Esse homem era novo e tinha um velho pai que amava e uma noiva que adorava. Ia casar com ela quando de súbito um desses caprichos do destino que fariam duvidar da bondade de Deus se Deus se não revelasse mais tarde mostrando que tudo é para ele um meio de conduzir à sua unidade infinita, quando de súbito um capricho do destino lhe roubou a liberdade, a amada e o futuro com que sonhava e que julgava pertencer-lhe, pois, cego como estava, só podia ler no presente, e o lançou no fundo de uma masmorra.

- Pois sim, mas sai-se de uma masmorra ao fim de oito dias, de um mês, de um ano... - observou Morrel.

- Ele ficou lá catorze anos, Morrel - disse o conde, pousando a mão no ombro do rapaz.

Maximilien estremeceu.

- Catorze anos!... - murmurou.

- Catorze anos - repetiu o conde. - Também ele, durante esses catorze anos, teve muitos momentos de desespero. Também ele, como o senhor, Morrel, julgando-se o mais infeliz dos homens, se quis matar.

- E depois? - perguntou Morrel.

- E depois? No momento supremo Deus revelou-se-lhe por um meio humano. Porque Deus já não faz milagres. Talvez à primeira vista (os olhos velados de lágrimas precisam de tempo para se abrir por completo) não tenha compreendido a misericórdia infinita do Senhor, mas enfim, encheu-se de paciência e esperou. Um dia saiu miraculosamente da tumba, transfigurado, rico, poderoso, quase um deus. O seu primeiro pensamento foi para o pai, mas o pai morrera!

- A mim também me morreu o meu pai - observou Morrel.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069