O Conde de Monte Cristo - Cap. 117: O 5 de Outubro Pág. 1070 / 1080

O passageiro pegou-lhe, levantou-se lentamente e fez fogo para o ar.

Dez minutos depois colhiam as velas e ancoravam a quinhentos passos de um portinho.

O escaler estava já no mar, com quatro remadores e o piloto.

O passageiro desceu e, em vez de se sentar à popa, guarnecida para ele de um tapete azul, conservou-se de pé com os braços cruzados.

Os remadores esperavam, com os remos semilevantados, como aves com as asas a secar.

- Vamos - disse o viajante.

Os oito remos mergulharam no mar simultaneamente e sem fazerem brotar uma gota de água. Depois o escaler, cedendo ao impulso, deslizou rapidamente.

Chegaram num instante a uma enseadazinha formada por um recorte natural; o escaler tocou num fundo de areia fina.

- Excelência - disse o piloto -, suba para os ombros de dois dos nossos homens, que o levarão para terra.

O jovem respondeu ao convite com um gesto de completa indiferença, pôs as pernas fora do escaler e deixou-se escorregar para a água, que lhe subiu até à cintura.

- Ah, Excelência - murmurou o piloto -, não devia ter feito isso! Assim, o patrão ralha connosco...

O jovem continuou a avançar para a margem, seguindo dois marinheiros, que escolhiam o melhor fundo.

Ao cabo de uns trinta passos chegaram a terra. O jovem sacudiu os pés num terreno seco ao mesmo tempo que procurava com os olhos, à sua volta, o caminho que provavelmente lhe iam indicar, pois entretanto anoitecera por completo.

No momento em que virava a cabeça pousou-lhe uma mão no ombro e uma voz fê-lo estremecer.

- Boas noites, Maximilien - disse essa voz. - Foi pontual; obrigado.

- E o senhor também, conde! - exclamou o jovem, com expressão que parecia de alegria e apertando com ambas as mãos a mão de Monte-Cristo.

- Sim, como vê, tão pontual como você. Mas está encharcado, meu caro amigo! Tem de mudar de roupa, como diria Calipso a Telémaco. Venha, há por aqui aposentos preparados para si em que esquecerá fadigas e frio.

Monte-Cristo viu Morrel virar-se e esperou.

Com efeito, o jovem via com surpresa que nem uma palavra fora pronunciada por aqueles que o tinham trazido, que lhes não pagara e que no entanto se tinham ido embora. Ouviam-se já, até, os remos do escaler, que regressava ao iatezinho.

- Procura os seus marinheiros, não é? - perguntou o conde.

- Sem dúvida. Não lhes dei nada e no entanto foram-se embora.

- Não se preocupe com isso, Maximilien - redarguiu, rindo, Monte-Cristo. - Tenho um contrato com a marinha nos termos do qual o acesso à minha ilha está isento de qualquer direito de transporte e viagem. Tenho uma avença, como dizem nos países civilizados.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069