O Conde de Monte Cristo - Cap. 16: Um sábio italiano Pág. 127 / 1080

- Falo cinco línguas vivas: alemão, francês, italiano, inglês e espanhol. Com o auxílio do grego antigo compreendo o grego moderno; simplesmente falo-o mal, mas estudo-o neste momento.

- Estuda-o? - estranhou Dantès.

- Sim. Fiz um vocabulário das palavras que conheço e dispu-las, combinei-as, virei-as e revirei-as de forma a bastarem-me para exprimir o meu pensamento. Sei cerca de três mil palavras, em rigor tudo o que preciso, embora, segundo creio, os dicionários registem cem mil. Bom, não serei eloquente, mas far-me-ei compreender às mil maravilhas e isso basta-me.

Cada vez mais atónito, Edmond começava a achar quase sobrenaturais as faculdades daquele homem estranho. Quis apanhá-lo em falta em qualquer coisa e continuou:

- Mas se não lhe deram penas, como conseguiu escrever esse tratado tão volumoso?

- Fi-las excelentes, a ponto de serem preferidas às penas vulgares se o material fosse conhecido, com as cartilagens das cabeças dessas enormes pescadas que às vezes nos dão nos dias de jejum. Por isso vejo sempre chegar com grande prazer as quartas-feiras, as sextas-feiras e os sábados, pois dão-me a esperança de aumentar a minha provisão de penas, e os meus trabalhos históricos são, confesso-o, a minha mais agradável ocupação. Recuando no passado, esqueço o presente; percorrendo livre e independente a História, esqueço-me de que estou preso.

- Mas a tinta? - insistiu Dantès. - Como obtém a tinta? - Dantes, havia uma chaminé na minha cela - respondeu Faria. Essa chaminé foi tapada algum tempo antes da minha chegada, sem dúvida, mas durante longos anos fizera-se lume nela e todo o interior ficou coberto de fuligem. Dissolvo a fuligem numa porção do vinho que me dão todos os domingos e obtenho uma tinta excelente. Para escrever as notas especiais e que têm necessidade de dar nas vistas, pico os dedos e escrevo com o meu sangue.

- E quando poderia ver tudo isso? - perguntou Dantès.

- Quando quiser - respondeu Faria.

- Oh, imediatamente! - exclamou o rapaz.

- Nesse caso, acompanhe-me - disse o abade.

E penetrou na galeria subterrânea, onde desapareceu. Dantès seguiu-o.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069