O Conde de Monte Cristo - Cap. 17: A cela do abade Pág. 138 / 1080

Sem responder, Dantès pegou no formão, torceu-o como uma ferradura e endireitou-o.

- Seria capaz de se comprometer a só matar a sentinela em última extremidade?

- Seria, palavra de honra.

- Então - disse o abade -, poderemos executar o nosso projecto.

- De quanto tempo precisaremos para o pôr em prática?

- De um ano, pelo menos.

- Quando começamos a trabalhar?

- Imediatamente.

- Está a ver? Com isso tudo já perdemos um ano! – exclamou Dantès.

- Acha que o perdemos? - redarguiu o abade.

- Oh, perdão, perdão! - desculpou-se Edmond, corando.

- Caluda! - atalhou o abade. - O homem nunca passa de um homem, e você é ainda um dos melhores que conheci. Veja, aqui está o meu plano.

O abade mostrou então a Dantès um desenho que fizera: era a planta da sua cela, da cela de Dantès e da galeria que ligava uma à outra. A meio da galeria abrira uma passagem estreita semelhante às que se usavam nas minas. Essa passagem serviria para os dois prisioneiros se deslocarem debaixo da galeria onde passeava a sentinela. Uma vez chegados aí, praticariam uma grande escavação e soltariam uma das lajes que formavam o pavimento da galeria. Em dado momento, a laje abater-se-ia debaixo do peso do soldado, que desapareceria engolido pela escavação. Dantès precipitar-se-ia sobre ele no momento em que, ainda aturdido da queda, o soldado não se poderia defender, amarrá-lo-ia, amordaçá-lo-ia, e então ambos passariam por uma das janelas da galeria, desceriam ao longo da muralha exterior com o auxílio da escada de corda e fugiriam.

Dantès bateu palmas e os seus olhos cintilaram de alegria. O plano era tão simples que devia resultar.

Os mineiros deitaram mãos à obra no mesmo dia, com tanto mais ardor quanto é certo o trabalho suceder a um longo repouso e, segundo todas as probabilidades, não ser mais do que a continuação do pensamento íntimo e secreto de cada um.

Nada os interrompia excepto a hora a que ambos eram forçados a regressar às suas celas para receber a visita do carcereiro.

Aliás, tinham adquirido o hábito de distinguir, pelo ruído imperceptível dos passos, o momento em que o homem descia e nunca nem um, nem outro fora apanhado de surpresa. A terra que extraíam da nova galeria, e que acabaria por encher a antiga, deitavam-na pouco a pouco e com inauditas precauções por uma ou outra das duas janelas da cela de Dantès ou da cela de Faria.

Pulverizam-na com cuidado e o vento da noite levava-a para longe sem deixar vestígios.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069