O Conde de Monte Cristo - Cap. 19: O terceiro ataque Pág. 154 / 1080

O tesouro não será mais meu do que seu, pois nem um nem outro sairemos daqui. De resto, o meu verdadeiro tesouro, meu amigo, não é o que me esperava debaixo das rochas enegrecidas de Monte-Cristo, mas sim a sua presença, o nosso convívio de cinco ou seis horas por dia, apesar dos nossos carcereiros; são os clarões de inteligência com que me iluminou o cérebro, as línguas vivas que me implantou na memória e que aí desabrocham com todas as suas ramificações filológicas. As várias ciências que me tornou tão fáceis de aprender dada a profundidade do conhecimento que possui delas e a clareza de princípios a que as reduziu, é que constituem aquilo em que me fez rico e feliz. É esse o meu tesouro. Acredite no que lhe digo e conforme-se: tudo isso vale mais para mim do que toneladas de ouro e caixas de diamantes, mesmo que não fossem problemáticas como as nuvens que vemos de manhã pairar sobre o mar, que as pessoas tomam por terras firmes e que se evaporam, se volatizam e se desvanecem à medida que se aproximam delas.

Tê-lo junto de mim o mais tempo possível, ouvir a sua voz eloquente enriquecer o meu espírito, retemperar-me a alma, tornar todo o meu ser capaz de grandes e terríveis coisas se alguma vez for livre, enchê-lo tão bem que o desespero a que estava prestes a entregar-me quando o conheci não encontrei lugar em mim, é essa a minha fortuna. E uma fortuna nada quimérica, uma fortuna que lhe devo e que é bem real, uma fortuna que nem todos os soberanos da Terra, mesmo que fossem Césares Bórgias, me conseguiriam roubar.

Assim tiveram os dois infortunados, senão dias felizes, pelo menos dias que passaram com tanta rapidez como os que se seguiram. Faria, que durante tão longos anos guardara o segredo do tesouro, não se cansava agora de falar dele. Como previra, ficara paralítico do braço direito e da perna esquerda e perdera quase toda a esperança de os utilizar. Mas continuava a sonhar para o seu jovem companheiro uma libertação ou uma evasão que lhe permitisse fruir o tesouro por ambos. Com receio de que a carta se perdesse, obrigara Dantès a decorá-la, e Dantès sabia-a da primeira à última palavra. Destruíra então a segunda parte, pois assim, mesmo que alguém se apoderasse da primeira, não conseguiria adivinhar o seu verdadeiro sentido. Às vezes, Faria passava horas inteiras a dar instruções a Dantès, instruções que lhe seriam úteis no dia da sua libertação.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069