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Capítulo 19: O terceiro ataque

Página 155
Uma vez livre, no dia, na hora, no minuto em que se visse liberto, só deveria ter um único pensamento: alcançar Monte-Cristo fosse como fosse e ficar sozinho, sob um pretexto que não desse azo a suspeitas, e uma vez lá, uma vez sozinho, procurar encontrar as grutas maravilhosas e revistar o local indicado. (O local indicado, recorde-se, era o canto mais afastado da segunda abertura.)

Entretanto, as horas passavam, senão rápidas, pelo menos suportáveis. Como dissemos, Faria, sem ter recuperado o uso da mão e do pé, recuperara toda a lucidez da sua inteligência e, além dos conhecimentos morais a que já nos referimos em pormenor, ensinara pouco a pouco ao seu jovem companheiro a arte paciente e sublime do prisioneiro, que de nada sabe fazer qualquer coisa. Estavam portanto sempre ocupados, Faria com medo de se ver envelhecer, Dantès com medo de se recordar do seu passado quase extinto e que já só pairava no mais recôndito da sua memória como uma luz longínqua perdida na noite. Tudo corria assim como nessas existências onde o infortúnio nada perturbou e que se escoam maquinais e calmas sob o olhar da Providência.

Mas sob essa calma superficial havia no coração do rapaz, e talvez também no do velho, muitos impulsos contidos, muitos suspiros abafados, que vinham ao de cima quando Faria ficava sozinho e Edmond regressava à sua cela.

Uma noite, Edmond acordou sobressaltado, julgando ter ouvido chamar por si. Abriu os olhos e tentou traspassar a densidade das trevas. O seu nome, ou antes, uma voz gemebunda que procurava articular o seu nome, chegou-lhe aos ouvidos. Ergueu-se na cama, com o suor da angústia a cobrir-lhe a testa, e escutou. Não havia dúvida, os gemidos vinham da cela do companheiro.

- Meu Deus! - murmurou Dantès. - Terá ...? Afastou a cama, tirou a pedra, meteu pela galeria e chegou à extremidade oposta. A laje estava levantada à luz da candeia informe e vacilante de que já falámos, Edmond viu o velho pálido, ainda de pé, agarrado à cama.

Tinha o rosto arrepanhado pelos horríveis sintomas que já conhecia e que tanto o tinham assustado quando os vira pela primeira vez.

- Pronto, meu amigo! - disse Faria, resignado. - Compreende, não é verdade? Não preciso de lhe ensinar mais nada! Edmond soltou um grito doloroso e, perdendo por completo a cabeça, correu para a porta a gritar.

- Socorro! Socorro! Faria teve ainda forças para o deter pelo braço.

- Silêncio, ou está perdido! - disse. - Pensemos apenas em si, meu amigo, em lhe tornar o seu cativeiro suportável ou a sua fuga possível. Precisaria de anos para refazer sozinho tudo o que fiz aqui, e que seria destruído imediatamente quando os nossos guardiões soubessem do nosso entendimento.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 155

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069