O Conde de Monte Cristo - Cap. 26: A Estalagem da Ponte do Gard Pág. 212 / 1080

- Cinquenta mil francos! - exclamou Caderousse. - Mas então... seria assim do tamanho de uma noz?

- Nem tanto - respondeu o abade. - Mas, vai ver por si mesmo, pois trago-o comigo.

Caderousse pareceu procurar nas vestes do abade onde estaria a pedra preciosa.

O abade tirou da algibeira uma caixinha de chagrém preto, abriu-a e fez brilhar aos olhos deslumbrados de Caderousse a cintilante maravilha, montada num anel de admirável trabalho.

- E isso vale cinquenta mil francos?

- Sem a montagem, que por si só também tem certo valor - respondeu o abade.

Fechou o estojo e voltou a meter na algibeira o diamante, que continuava a brilhar no fundo do cérebro de Caderousse.

- Mas como se explica que tenha esse diamante em seu poder Sr. Abade? - perguntou Caderousse.

- Edmond nomeou-o seu herdeiro?

- Não, mas sim seu executor testamentário. «Tenho três bons amigos e uma noiva», disse-me. «Estou certo de que todos os quatro me lamentam amargamente. Um desses bons amigos chamava-se Caderousse.» Caderousse estremeceu.

-«Outro...» - continuou o abade sem parecer notar a emoção de Caderousse - «outro chamava-se Danglars e o terceiro» acrescentou, «apesar de meu rival, estimava-me muito.» Um sorriso diabólico iluminou as feições de Caderousse, que fez um gesto para interromper o abade.

- Espere - atalhou este -, deixe-me acabar, e se tiver alguma observação a fazer-me, far-ma-á depois. «O outro, apesar de meu rival, também me estimava e chamava-se Fernand. Quanto à minha noiva, o seu nome era...» Já não me lembro do nome da noiva - disse o abade.

- Mercédès - informou Caderousse.

- Ah, sim, é isso! - exclamou o abade, que depois soltou umsuspiro abafado.

- Mercédès...

- E que mais? - perguntou Caderousse.

- Dê-me uma garrafa de água - pediu o abade.

Caderousse apressou-se a obedecer.

O abade encheu o copo e bebeu uns golos.

- Aonde íamos? - perguntou, pousando o copo em cima da mesa.

- A noiva chamava-se Mercédès.

- Sim, é isso. «Vá a Marselha...» Continua a ser Dantès quem fala, compreende?

- Perfeitamente.

-«Venda o diamante, faça cinco quinhões e divida-os entre esses bons amigos, os únicos entes que me estimaram no mundo!»

- Como cinco quinhões? - atalhou Caderousse. - O senhor só se referiu a quatro pessoas...

- Porque a quinta morreu, segundo me disseram... A quinta era o pai de Dantès.

- Sim, desgraçadamente! - confirmou Caderousse, impressionado pelos sentimentos que se entrechocavam em si.

- Sim, desgraçadamente o pobre homem morreu.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069