O Conde de Monte Cristo - Cap. 27: O relato Pág. 218 / 1080

«No dia seguinte, Mercédès veio a Marselha implorar a protecção do Sr. de Villefort, mas não conseguiu nada. Aproveitou no entanto a oportunidade para visitar o velhote.

«Quando o viu tão triste e abatido e soube que passara a noite sem se meter na cama e que não comia desde a véspera, quis levá-lo para cuidar dele, mas o velho recusou terminantemente.

«- Não - dizia ele -, não sairei de casa, pois é a mim que o meu pobre filho ama antes de mais nada e se sair da prisão é a mim que correrá a ver em primeiro lugar. Que diria se não estivesse aqui à sua espera?

«Eu escutava tudo isto do patamar da escada, porque gostaria que Mercédès convencesse o velho a acompanhá-la. O eco daqueles passos todos os dias por cima da minha cabeça não me deixavam um instante de repouso.

- Mas o senhor mesmo não subia a casa do velho para o confortar? - perguntou o padre.

- Ah, senhor, só se confortam aqueles que querem ser confortados e ele não o queria ser! - respondeu Caderousse. - De resto, não sei porquê, mas parece-me que tinha repugnância em ver-me. Uma noite, ao ouvir os seus soluços, não aguentei mais e subi; mas quando cheguei à porta já não soluçava, rezava. As palavras eloquentes e as súplicas piedosas que encontrava para se exprimir eram tão comoventes que não saberia repetir-lhas, senhor. Aquilo era mais do que devoção, era mais do que dor. Por isso, eu que não sou beato falso nem gosto dos Jesuítas, disse para comigo naquele dia: «é uma grande sorte, na verdade, ser só e Deus não me ter dado filhos, porque se fosse pai e sentisse dor idêntica à do pobre velho, como não poderia encontrar na memória nem no coração nada do que ele diz a Deus, iria direitinho atirar-me ao mar para não sofrer mais tempo.« - Pobre pai!» - murmurou o padre.

- De dia para dia vivia mais só e isolado. O Sr. Morrel e Mercédès apareciam muitas vezes para o ver, mas a sua porta estava sempre fechada. E embora eu tivesse a certeza absoluta de que estava em casa, não respondia. Um dia em que contra o seu hábito recebeu Mercédès e em que a pobre pequena, ela própria desesperada, tentava reconfortá-lo, o velho disse-lhe: «Acredita, minha filha, que ele morreu, e que em vez de o esperarmos é ele quem nos espera. Sinto-me muito feliz porque, como sou o mais velho, serei por consequência quem o verá primeiro.» «Por melhor que uma pessoa seja, como sabe, não tarda a afastar-se daqueles que a entristecem, e o velho Dantès acabou por ficar completamente só.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069