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Capítulo 27: O relato

Página 219
Apenas de tempos a tempos via subir a casa dele pessoas desconhecidas, que desciam com qualquer embrulho mal escondido. Compreendi depois que continham esses embrulhos: o velho vendia pouco a pouco o que possuía para viver. Finalmente, o pobre homem chegou ao fim dos seus míseros haveres. Devia três meses de renda e ameaçaram pô-lo na rua. Pediu mais oito dias e concederam-lhos. Soube deste pormenor porque o senhorio foi a minha casa depois de sair da dele.

«Durante os três primeiros dias, ouvi-o caminhar como de costume, mas no quarto dia não ouvi mais nada. Arrisquei-me a subir. A porta estava fechada, mas através da fechadura vi-o tão pálido e abatido que, julgando-o muito doente, mandei avisar o Sr. Morrel e corri a casa de Mercédès. Ambos vieram logo. O Sr. Morrel trazia um médico. Este diagnosticou uma gastrenterite e prescreveu dieta. Estava lá, senhor, e nunca mais esquecerei o sorriso do velho ao ouvir a receita.

«A partir desse dia passou a abrir a porta. Tinha uma desculpa para não comer: o médico prescrevera dieta.

O abade soltou uma espécie de gemido.

- Esta história interessa-lhe, não é verdade, senhor? - perguntou Caderousse.

- Interessa, de facto - respondeu o abade. - É comovente.

- Mercédès voltou. Encontrou-o tão mudado que como da primeira vez quis mandá-lo transportar para casa dela. Essa era também a opinião do Sr. Morrel, que estava disposto a levá-lo à força. Mas o velho gritou tanto que tiveram medo. Mercédès ficou à sua cabeceira. O Sr. Morrel saiu depois de fazer sinal à catalã de que deixava uma bolsa em cima da chaminé. Mas fazendo finca pé na receita do médico, o velho recusou-se a comer. Por fim, após nove dias de desespero e abstinência, o velho amaldiçoando aqueles que tinham causado a sua desgraça e dizendo a Mercédès: «Se tornares a ver o meu Edmond, diz-lhe que morro abençoando-o.» O abade levantou-se, deu duas voltas na sala e levou a mão trémula à garganta seca.

- E o senhor julga que morreu...

- De fome, senhor, de fome - respondeu Caderousse. - Não lhe oculto verdade porque estamos aqui dois cristãos.

O abade pegou com mão convulsa no copo de água ainda meio cheio, despejou-o de um trago, e conteve-se, com os olhos avermelhados e as faces pálidas.

- Reconheça que foi uma grande infelicidade! - disse com voz rouca.

- Tanto maior, senhor, quanto é certo não ter Deus sido para aí metido nem achado. Os culpados foram apenas os homens.

- Passemos portanto a esses homens - disse o abade. - Mas lembre-se - continuou com ar quase ameaçador - de que se comprometeu a dizer-me tudo. Vejamos, quem são esses homens que fizeram morrer o filho de desespero e o pai de fome?

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 219

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069