O Conde de Monte Cristo - Cap. 27: O relato Pág. 226 / 1080

- Então não viu nem um nem outro?

- Não. Mas viu-me a Sr.ª de Morcerf.

- Como assim?

- Quando saí, caiu-me aos pés uma bolsa. Continha vinte e cinco luíses. Levantei rapidamente a cabeça e vi Mercédès fechar a persiana.

- E o Sr. de Villefort? - indagou o abade.

- Oh, esse não fora meu amigo, a esse não o conhecia, a esse não tinha nada a pedir!

- Mas não sabe o que foi feito dele e a parte que tomou na desgraça de Edmond?

- Não. Sei apenas que algum tempo depois de o mandar prender casou com Mademoiselle de Saint-Méran e em breve deixou Marselha.

«Decerto a felicidade lhe sorriu, como aos outros; decerto é rico como Danglars e considerado como Fernand. Só eu, como vê, fiquei pobre, miserável e esquecido de Deus.

- Engana-se, meu amigo - redarguiu o abade. - às vezes, Deus pode parecer esquecer, quando a sua justiça descansa, mas chega sempre um momento em que Ele se recorda, e aqui está a prova.

Ao dizer estas palavras, o abade tirou o diamante da algibeira e apresentou-o a Caderousse.

- Tome, meu amigo - disse-lhe -, tome este diamante porque ele pertence-lhe.

- Como, a mim só?! - exclamou Caderousse. - Vamos, senhor, não está a brincar?

- Este diamante devia ser vendido entre os seus amigos. Como Edmond só tinha um amigo, a divisão é portanto inútil. Tome este diamante e venda-o. Vale cinquenta mil francos, repito-lhe, importância que, assim espero, bastará para o tirar da miséria.

- Oh, senhor! - disse Caderousse, estendendo timidamente uma das mãos e enxugando com a outra o suor que lhe perlava testa! - Oh, senhor, não brinque com a felicidade ou o desespero de um homem!

- Sei o que é a felicidade e o que é o desespero e nunca brincarei sem motivo com os sentimentos das pessoas. Tome, pois, mas em troca...

Caderousse, que tocava já no diamante, retirou a mão.

O abade sorriu.

- Em troca - continuou - dê-me essa bolsa de seda encarnada que o Sr. Morrel deixou em cima da chaminé do velho Dantès e que me disse encontrar-se ainda em seu poder.

Cada vez mais atónito, Caderousse dirigiu-se para um grande armário de carvalho, abriu-o e deu ao abade uma bolsa comprida, de seda vermelha desbotada, com duas argolas de cobre que em tempos tinham sido douradas.

O abade pegou-lhe e em seu lugar deu o diamante a Caderousse.

- Oh, o senhor é um enviado de Deus! - exclamou Caderousse. - Na verdade, ninguém sabia que Edmond lhe dera este diamante e o senhor poderia ficar com ele.

- Ao que parece, era o que farias - disse baixinho o abade.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069